Dar o peixe, ensinar a pescar ou remover os muros?

O objeto do serviço social

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Na atualidade a diversidade de objetos e especificidades apresenta-se como uma possibilidade teórico-prática para o Serviço Social num quadro de globalização e cidadania social. Um outro domínio importante no Serviço social são as estratégias profissionais (Faleiros, 2007:31) ”A articulação das mediações particulares, individuais ou coletivas, exigidas pelo trabalho quotidiano, com as exigências do contexto económico, político, imaginário, ideológico é que vai permitir a construção de estratégias no tempo social, familiar e especifico solicitado pelos utentes na relação com a intervenção profissional e institucional”. “A construção do objeto implica, assim, tanto a análise das questões mais gerais (economia, instituições, politicas) como dos micro poderes (lógicas dos actores sociais), (Martin e Royer, 1987 in Faleiros, 2007:33). Freynet (1995), defende para o Serviço Social um papel de mediador de conflitos, tendo por missão intervir sobre as tensões, os conflitos, as violências, entre grupos excluídos, a sociabilidade local e a sociedade instituída. O Serviço Social promove a comunicação entre sistemas, nomeadamente no que respeita a dificuldades de relação entre sistemas e promove a interligação entre sistemas e recursos, e sistemas e utilizadores. 

Utilizando uma terminologia muito identificada com Vicente Paula Faleiros, (1995) e de Alcina Martins (1999) designada construção/ desconstrução do objecto do Serviço Social, passamos a identificar de forma sintética cinco períodos de desenvolvimento do Serviço Social no domínio da construção do seu objeto de intervenção. 

1º período : 1940 – 1960 

Este período é identificado com a emergência do Serviço Social na Europa, e com o surgimento das primeiras Escolas de Serviço Social em Portugal. (Ferreira, 2008; Martins, 1999). 

Na sequência da revolução industrial e da teoria marxista (divisão sociotécnica do trabalho) iniciou-se um debate técnico-científico (mais centrado no campo profissional) sobre a intervenção do Assistente Social, reconhecendo que no quadro da complexidade dos problemas sociais esta não pode ser improvisada, mas sim baseada num conjunto de conhecimentos de diferentes disciplinas, que lhe permitam definir um quadro metodológico próprio no marco das Ciências Sociais e Humanas. M. Richmond (1922), considerava existir o mesmo espaço científico e profissional nas disciplinas que constituem as ciências sociais, restringindo a cada uma delas um campo particular de metodologia, de construção de objetos e objetivos. 

O Serviço Social assume nesta fase uma dimensão preventiva, embora identificada com a perspectiva assistencialista. 

2º período : 1960 - 1980 

Este período identifica-se com um período histórico que apresenta alterações na vida social e quotidiana, a permissão de admissão de Homens à formação em Serviço Social (1961) e marcado pelo modelo de desenvolvimento comunitário, principalmente em meio rural. Assim, o objeto de Serviço Social é identificado com o referencial da integração “meio – personalidade”, através dos valores dominantes nas relações sociais. Valores dominantes assumidos pelo Serviço Social no processo da integração e adaptação que procura articular a intervenção individual com a intervenção comunitária e grupal. É neste período que surgem no debate técnico-científico as dimensões sobre um método único de intervenção em Serviço Social denominado: diagnóstico/ tratamento / avaliação. Neste período a intervenção do Serviço Social é marcada pelos contributos da teoria crítica desenvolvida pela Escola de Frankfurt e por uma dimensão Funcionalista, tendo por base uma perspetiva Desenvolvimentista. 

Nos anos 80, o Serviço Social define um novo eixo como profissão e como disciplina científica no marco das Ciências Sociais e Humanas, emergente no quadro da reconceituação. O processo de reconceituação do Serviço Social teve como objetivos produzir uma mudança no marco conceptual da profissão e produzir mudança no conteúdo ideológico da profissão. Implicou ainda uma mudança na intencionalidade da prática profissional do Assistente Social em busca de uma nova metodologia e reformulação da anterior. Este processo promoveu uma leitura histórico-critica á conceção funcionalista e de desviância social, criando assim uma rutura com a conceção assistencialista que sofre mudanças a nível teórico, ideológico e metodológico em termos de uma rutura com os dogmas, novas bases doutrinais e uma renovação da conceção de sujeito. (Martins, 1999; Garcia e Bracho, 2006). Este movimento surgiu das teorias de modernização e dependência – teorias que configuram uma corrente crítica. 

A teoria da modernização sustenta o movimento de desenvolvimento da sociedade suportado na corrente capitalista. Este movimento procurava apoiar o processo de desenvolvimento das sociedades subdesenvolvidas para desenvolvidas. Esta teoria integrava as variáveis – Sociais, económicas, mediação e desenvolvimento. Esta teoria sustentada no Capitalismo defende um papel do Estado relevante na sociedade, reclamando uma mudança de mentalidades. 

A teoria da dependência, contrapondo-se á teoria da modernização baseada no princípio histórico-metodológico, põe a ênfase na dimensão histórico estrutural da situação de subdesenvolvimento e procura demonstrar o surgimento desta situação assim como a sua reprodução à dimensão do desenvolvimento Capitalista. 

Neste período o objeto do Serviço Social ganha novo aprofundamento, Conceção do Homem numa dimensão bio-psico-social integral. O Serviço social pretende conhecer e abordar o Homem por meio das suas relações sociais, pela sua pertença á classe social, os papeis que o indivíduo tem na sociedade (aspetos parciais da dimensão humana integral da pessoa). Uma intervenção centrada na relação personalidade/ meio /recursos passa para uma relação centrada nas relações sociais de classe e de grupos. Assim, o objeto do Serviço Social, identifica-se com a preocupação com o desenvolvimento teórico do Serviço Social em simultâneo com a preocupação da sua dimensão crítica e política. Busca novos paradigmas da compreensão da sociedade, da sua estruturação e mudança. Boris Lima e Maria Angélica Gallardo (1974) Procuram vincular o Serviço Social a um processo de planeamento, diagnóstico, programação, execução e avaliação. 

O Serviço Social assume nesta fase uma dimensão estruturalista, identificada com a perspetiva intervencionista. 

3º período : 1980 

Nos anos 80, no pós reconceituação do Serviço Social, as correntes críticas ganham importância nas preposições e intervenções desenvolvidas pelo Serviço Social. Uma parte do Serviço Social crítico, veio a assumir uma identidade completa com os movimentos sociais (ex. Português criação das IPSS). Tendo como objeto não mudar o comportamento ou o meio, mas contribuir para a organização e mobilização social dos cidadãos, das instituições e das comunidades na luta contra o capitalismo. Ganham força, no domínio do Serviço Social as teorias da Escolha Racional ou também designadas de Teoria da Acção desenvolvidas por Pareto, Parsons (1937), Weber, Lindenberg (1992) e as teorias da Acção e da Praxis, de Hobbes, Locke, Kant, Weber (1921), Cohen (1981) Dewey, Mead (1934), Anthony Giddens (1984). 

Neste período o Serviço Social tem por base o paradigma das inter-relações. 

4º período : 1990 

Neste período o Serviço Social insere-se num novo contexto social e político, no quadro do espaço europeu e de maior internacionalização ao nível social, económico, do emprego e cultura. Assistimos ao surgimento de novas questões sociais emergentes num princípio social de multiculturalidade, nomeadamente: questões do género; etnicidade, desviância, minorias, orientação sexual e não discriminação. O objeto do Serviço Social centra-se nas relações de cooperação/ conflito do Estado com a Sociedade. Não só se alteram as relações Estado/Sociedade como as relações entre os próprios grupos da sociedade, surgindo as IPSSs e as ONGs enquanto instituições de promoção e defesa dos direitos humanos. Esta alteração de paradigma social obriga a um repensar da relação entre sociedade, cultura, economia e subjetividade, implicando uma construção de uma nova identidade individual e coletiva na defesa dos direitos humanos e na busca de autonomia e participação social. 

5º período : 2000 

Na atualidade o Serviço Social inscreve-se num contexto económico e politico de grandes mudanças marcado por um contexto neoliberal ao nível de política económica, associado a politicas de privatização e terciarização com profundas consequências na vida dos cidadãos, nas relações de trabalho e emprego e na gestão social da vida quotidiana. Presentemente ganha importância o paradigma do partenariado a dimensão das Redes no processo de intervenção social de forma geral e em particular do Serviço Social. Estamos perante um novo desafio sobre a construção do objeto de intervenção do Serviço Social, havendo necessidade de repensarmos o objeto de intervenção do Serviço Social, ao nível do: 
  • Emprego;
  • da responsabilidade social; 
  • da família; 
  • da comunidade; 
  • e das novas politicas sociais. 
FERREIRA, Jorge Manuel Leitão - Serviço Social e modelos de bem-estar para a infância: modus operandi do assistente social na promoção da protecção à criança e à família [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL, 2009. Tese de doutoramento. Disponível em www:<http://hdl.handle.net/10071/3590>. ISBN 978-989-732-144-3.

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