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A Velhice e o Envelhecimento


O envelhecimento pode ser estudado de diferentes perspectivas. Na mais comum, em termos biológicos, define-se como o processo de deterioração endógena e irreversível das capacidades funcionais do organismo e, por enquanto, é inevitável. Os órgãos vão perdendo as suas capacidades de forma diferente: os tecidos elásticos (do aparelho circulatório, respiratório ou a pele) deterioram-se mais rapidamente que os tecidos nervosos, por exemplo. A evolução dita “normal” pode ser acelerada por factores como o stress, traumatismos ou doenças, passando a designar-se por envelhecimento secundário ou patológico (Sousa, 2004).

Definir o envelhecimento não é tarefa fácil. Bond e Coleman (1994) referem três termos para cada uma das vertentes de abordagem: senescência para a biológica, eldering para a social e geronting para a psicológica. A primeira explica o processo como forma de aumentar a probabilidade de morrer com a idade, a segunda como a aquisição de papéis e comportamentos sociais apropriados a grupos mais velhos e a terceira como a auto-regulação exercida pelo próprio ao longo da sua vida.

Mesmo sendo inerente à espécie, as particularidades pessoais do envelhecimento tornam-no individual. De acordo com a teoria de Baltes, um dos estudiosos deste tema (citado por Fontaine, 2000), existem três grandes categorias de factores que o influenciam:
• Ligados ao grupo etário - a idade cronológica (factores biológicos) e os acontecimentos de vida dela dependentes (a escolarização, a reforma, o serviço militar obrigatório ou as fases de maturação e de senescência biofisiológica) são determinantes e minimamente previsíveis, reflectindo a acção do meio que é comum a todos os indivíduos e não controlável por ele;
• Ligados ao período histórico - a vivência de guerras, a obrigatoriedade e o tipo de ensino, ou as revoluções num país, condicionam também este processo, mesmo que independentes dele. É o chamado “efeito de coorte”;
• Ligados à história pessoal ou não normativos- as decisões individuais (o casamento, constituição de família, tipo de profissão ou emprego, local de residência), ou os acontecimentos inesperados da sua vida (a viuvez, o desemprego, a solidão, a perda de filhos) são específicos e únicos a cada indivíduo.

Da interacção dos factores colectivos (de grupo etário e período histórico) e individuais (história pessoal), surge um quadro de envelhecimento particular, ajustado de acordo com a vivência pessoal. A força que cada grupo de factores exerce varia ao longo da vida: na infância e velhice dominam as influências do grupo etário, as históricas atingem o seu auge durante a adolescência e juventude, e as não normativas têm carácter progressivo.

É frequente a afinidade entre indivíduos da mesma faixa etária, com origens semelhantes. Encontram--se facilmente, nos bairros mais antigos das velhas cidades, comunidades organizadas de pessoas oriundas da mesma zona geográfica, que evoluem com as ramificações familiares, perdas e aquisições de pessoas, meios e organizações. O seu carácter dinâmico leva a um estreitamento de laços e consequente formação de pequenos núcleos. Com um contexto vivencial semelhante, está facilitada ao sénior a partilha de projectos e actividades, angústias e receios, obtendo e concedendo apoio aos seus pares. A articulação destes grupos com a sociedade, o seu nível interventivo e as exigências realizadas vão determinar as respostas dos restantes grupos.


Aceda AQUI ao Manual na íntegra

Uma análise do artigo: “Aportaciones de la ética de la alteridad de E. Lévinas y la ética del cuidado de C. Gilligan a la intervención en trabajo social”, de Goldaracena e Pemán (2012)

A supremacia de princípios éticos em Serviço Social, (autonomia, bem-estar e justiça, entre outros), é reconhecida por estes autores inegável e com origem filosófica. Sob a ética racional e formal de Kant (centrada na noção de dever) a ação conduz-se por via do imperativo categórico: “Age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal”, não como nova moral, mas como critério para o agir moral). Sob o utilitarismo consequencialista de Mill (visão renovada e crítica da ética utilitarista de Bentham e espelho do positivismo de Comte e sua crença na ciência e no progresso da Humanidade), assenta na ideia de que cada pessoa deve articular os seus interesses particulares com os interesses mais comuns, de forma a que a sua ação seja boa, proporcionando a máxima utilidade a todas as pessoas envolvidas nos resultados da ação.

Estes princípios, embora reconhecidos pelos autores como imprescindíveis a qualquer profissional de Serviço Social, são vistos numa dimensão normativa da ética profissional e com função principalmente orientadora da conduta interventiva da profissão. Contudo, uma vez que é na dimensão prática da ética profissional que surgem os problemas concretos, segundo os autores, o Assistente Social necessita de outras ferramentas e perspetivas orientadoras, tais como a ética da alteridade (E. Levinas) e a ética do cuidado (C. Gilligan), pois o uso restrito e racional dos princípios pode delegar para segundo plano a afetividade humana, pois sob os princípios racionalistas, o sujeito moral deve centrar-se apenas no cumprimento dos princípios, tratando o outro de forma generalizada. É neste âmbito que Lévinas e Gilligan nos dirigem para além dos princípios, e com estes como base, inserem a afetividade humana, onde o profissional considera o utente na sua concreta e irrepetível singularidade.

Para Goldaracena e Pemán (2012), a ética da alteridade de Lévinas, confronta as filosofias de Edmund Husserl e Martin Heidegger. No idealismo transcendental de Husserl, o eu transforma-se intencionalmente para perceber o exterior, transformando o outro num outro eu (alter ego), análogo ao meu ego, mas outro. No realismo ontológico de Heidegger, o ser no mundo é entregue a situações que não escolheu, ser aí (Daisen), sob a regra fundamental da interpretação fenomenológica, o que “exige tornar visível cada fenómeno, especialmente em sua singularidade” (Heidegger, 1987/2009: 98), totalizando a singularidade do outro e reduzindo-a à medida do ser.

No entanto, Lévinas não foi o criador nem o primeiro filósofo a desenvolver o conceito de Alteridade. Conforme o Dicionário de Filosofia de Abbagnano (2007: 34), “Ser outro é colocar-se ou constituir-se como outro”, sendo na dimensão de constituir-se para outro, através do seu rosto, que se pode desenvolver a sensibilidade da responsabilidade com o outro. (Silva Costa, 2014).

Lévinas critica a filosofia ocidental, pois esta coloca a ontologia como filosofia primeira, por se tratar do ser, reduzindo o outro ao nada (Gomes, 2008: 14), só se preocupando com o eu, tratando-o como centro do Universo. A dizer, segundo Goldaracena e Pemán (2012), que o “outro” é o que sei dele, se sei dele posso manejá-lo, manipular, dominar. Desde Parménides (que estabeleceu que o mundo sensitivo é pura ilusão, que os sentidos enganam, e que só mediante a razão (racionalismo), e não pela experiência, é possível chegar à verdade das coisas), passando por Kant, Husserl (cuja máxima aspiração é saber, transformando o “outro” pela intencionalidade no alter ego) e Heidegger (Daisen- ser aí - que acaba por integrar o “outro” à medida do “ser ), a ética permaneceu no presságio da ontologia, subordinada à lei moral de Kant, ao conhecimento de Husserl e ao “ser” de Heidegger.

Segundo os autores, a ética da alteridade de Lévinas, apresenta o “outro” absolutamente “outro”, como singularidade irredutível, pois precede sempre e excede o sujeito que o recebe, questionando se a moral deve reger-se por pautas de conduta e princípios abstratos, aplicados à priori a sujeitos singulares e concretos, frente a um imperativo categórico kantiano que estabelece a ética a priori (ausente de sensibilidade), categórica (não condicionada pelo exterior) e autónoma (o sujeito impõe-se racionalmente a si mesmo), propondo uma nova filosofia a partir da ética como filosofia primeira, abordando o conceito de alteridade como princípio da relação humana (Lévinas, 2009). Toda a operação ontológica como o conhecimento, deve ser sustentada pela sensibilidade preoriginaria que desperta a vigilância extrema do sujeito, segundo a qual devolverá a singularidade ao “outro” após cada categorização. É no contexto do face-a-face, que nasce a nova dimensão da ética primeira, nessa experiência fundada no rosto do outro, pensando a alteridade no conceito de rosto, onde se expressa a essência do ser humano de forma concreta, em oposição à abordagem exclusivamente racional da ontologia, que promove o “mesmo” a considerar o “outro” pela sua fachada visível.

Goldaracena e Pemán (2012), destacam então, a incorporação da noção de sensibilidade na ética de Lévinas, equiparadamente à ética do cuidado de Carol Gilligan, que devolvem ao corpo a sua sensibilidade, e como o fizeram também: Schopenhauer, para quem tempo e espaço são formas a priori da sensibilidade (Santos, 2011); Nietzsche, que considera a sensibilidade uma aptidão demandada a qualquer um em “mundos” social e culturalmente diferentes, cada um requerendo a sensibilidade e mentalidade mais conveniente de acordo com as suas diferenças (Schacht, 2011:70); Merleau-Ponty para quem a evidência que se tem do outro parte da sensibilidade e não do pensamento, pois dada a universalidade do sentir, vivendo o mesmo mundo, um corpo entra em contato com outro (Reis, 2008); ou Husserl, para quem a sensibilidade e as qualidades sensíveis não são a matéria de que a determinação categorial ou a essência ideal seria a forma “mas a situação em que o sujeito se coloca antecipadamente para realizar uma intenção categorial”. O corpo não é um objeto percebido mas um sujeito percipiente e a terra não é a base, onde as coisas aparecem, mas a condição requerida pelo sujeito para a perceção das mesmas. (Pereira, 1997)

Relativamente ao corpo, se para Platão o corpo está condicionado à alma, em Descartes ao cogito (“penso, logo sou"), Merleau-Ponty considera o corpo aquilo que se tem a par com aquilo que se é - tem-se e é-se corpo- sendo a corporeidade a representação que criamos na nossa mente, por meio da qual percebemos os nossos corpos e, principalmente, os compreendemos (Ferreira, 2010). Goldaracena e Pemán (2012), explicam que para Lévinas a corporalidade é afetada na diacronia, numa vulnerabilidade passiva da corporeidade pela qual o sujeito se vê condenado a responder, num desejo metafisico e preontologico: desejo irrefreável de servir o “outro”. Enquanto que Husserl considerou o corpo (e não só a consciência), como algo importante para a perceção, Lévinas concede mais importância à corporalidade que à consciência cognitiva na sua proposta ética.

Quanto à proposta ética de Gilligan, que admitiu as diferenças, complementa Kohlberg, para quem o “outro” se concebe generalizado (abstraindo-se do concreto para o geral), apresentando o “outro” concebido como singularidade concreta no seu contexto circunstancial, passando do geral ao concreto. Enquanto que para Kohlberg o sujeito moral tende a pôr-se no lugar do outro (pensa ou imagina o que o sujeito faria se estivesse numa pele e circunstancias nas quais nunca estará e que na hora da abstração desconhece por completo), Gilligan realça a importâncias das relações pessoais nas quais longe de meter-se intelectual ou imaginariamente no lugar do outro, cuida dele (o outro é alguém vulnerável e por isso necessitado de cuidado). Kohlberg continuou fiel ao principio kantiano, considerando fundamental a igualdade e imparcialidade no trato do outro generalizado, Gilligan reivindicou a existência de duas formas diferentes de assumir decisões morais, igualmente válidas (masculina e feminina), assinalando a importância da singularidade da perspetiva feminina a par da masculina, e não subordinada a ela. Na abordagem feminina, a moralidade centra-se nas responsabilidades das pessoas umas com as outras, num imperativo de cuidar delas, orientando para a responsabilidade da descoberta e avaliação do real e reconhecimento da complexidade do mundo. A abordagem masculina, nas sociedades ocidentais, centra-se em princípios básicos e no respeito pelos outros, em que a moralidade limita e orienta para a justiça (Gilligan, 1982).

Também Mary Richmond, afirmou: há que tratar diferente sempre de forma diferente, e é nesta linha, segundo Goldaracena e Pemán (2012), que Gilligan insiste na consideração da diversidade, assim como do contexto situacional do outro concreto, através das relações pessoais, fatores cruciais no Serviço Social, pois a ferramenta fundamental de trabalho é a relação interpessoal com o utente.

Recorrendo a Noddings (1984), encontramos também a ideia de que as teorias morais perdem (porque desqualificam), a relação com as pessoas concretas, olhando-as muitas vezes como estranhas, estrangeiras, ameaçadoras da lógica da generalização produzida pelo juízo moral, por não se encaixarem no padrão definido. Desta forma, o cuidado, requer contacto pessoal, varia conforme os indivíduos e as situações, e o que é bom para determinada pessoa numa situação, pode não ser bom para outra pessoa noutra situação. Como disse Lévinas” o sujeito é de carne e sangue (…) entranhas numa pele” .(Levinas 2003:136). O outro é o outro diferente de nós e não uma ideia nossa, e conforme Gilligan devemos tratar de conhece-lo ao máximo e o mais profundamente possível, tomando o tempo necessário para isso. Se para Kohlberg o sujeito moral é um sujeito racional com direitos e deveres, para Gilligan o sujeito ético é um sujeito que se preocupa com o outro porque o concebe na sua vulnerabilidade, necessitado de cuidados.

Kohlberg centra-se no que deve fazer o sujeito moral, Gilligan centra-se em cuidar daquele que o necessita, uma das grandes diferenças segundo Goldaracena e Pemán (2012), explicada por Levinas: a ética da justiça de Kohlberg centrada no “mesmo” encontra-se ontologizada, enquanto que a ética do cuidado de Gilligan centrada no “outro” não está. Desta forma, o universalismo de Kohlberg é substitucional (universaliza o “outro que perde a sua singularidade, unicidade exclusiva por integrar-se num todo ordenado, na totalidade de um sistema) enquanto que o universalismo de Gilligan é interativo (universalização onde a singularidade do outro é respeitada, dado que detrás da categorização abstrata volta-se a cuidar do outro concreto). Por outras palavras, na ética da justiça de Kohlberg o que se prepondera é a abstração do concreto ao geral (operações ontológicas abstratas e gerais), enquanto que na ética do cuidado de Gilligan o que predomina é o passar do abstrato ao concreto (o local, o circunstancial, o contexto situacional). Definitivamente, enquanto que a proposta de Kohlberg tende a intelectualizar o outro, cumprindo princípios e regras abstratas, Gilligan propõe o face to face das relações pessoais, nas quais surge de forma natural a necessidade de cuidar do outro concreto.

Em comum à ética da alteridade de Lévinas e à do cuidado de Gilligan, Goldaracena e Pemán (2012), observam que a importância outorgada à afetividade humana como determinante, considerando o emocional. Se para Lévinas a sensibilidade é que sustenta a responsabilidade e consequente vigilância extrema, para Gilligan a afetividade é inerente a uma relação pessoal onde esta surge de forma espontânea como necessidade de cuidar do outro concreto. Assim, para Lévinas, a sensibilidade é que nos impulsiona à excelência de todas as operações ontológicas, enquanto que para Gilligan, o ato que surge na relação com o outro concreto é o que leva o sujeito ético a saber o máximo possível e em profundidade do outro, levando-o a cuidá-lo sempre melhor.

Para Goldaracena e Pemán, (2012), ambas as éticas são abordagens com grande aplicação ao Serviço Social, em complemento ao principio ético universal e podem aportar outra perspetiva nas intervenções com os utentes: a sensibilidade, a implicação afetiva, o cuidado, o concreto e a contextualização do outro. A sensibilidade do sujeito ético em Lévinas responde prevoluntariamente ante o sofrimento alheio, garantindo desse modo que o outro não seja desconsiderado, mantendo a vigilância que impede categorizar definitivamente o outro no exercício das operações ontológicas, Gilligan sob a implicação afetiva que surge no cara a cara da relação interpessoal de cuidado, leva ao conhecimento mais aprofundado desse outro que não conhece, mas que deseja conhecer para poder ajudar, dando saída ao desejo de cuidá-lo da melhor maneira possível.

Goldaracena e Pemán, (2012), continuam a evidenciar no seu artigo que, em Serviço Social se desenvolveu mais a dimensão normativa que a dimensão prática da ética profissional, sendo que, a ética de Lévinas e de Gilligan são perspetivas que podem acercar-nos mais ao utente concreto. Se, em ambas as propostas, o principio racional universal suporia tratar o utente em relação a princípios abstratos estabelecidos a priori, desde a perspetiva de Lévinas tais princípios éticos são operações ontológicas, e o investir destes pela sensibilidade preoriginaria traria consigo uma maior humanização dos mesmos, pois seriam tidos em consideração no contexto de cada caso concreto, sempre à posteriori da irrupção do rosto. Por seu turno, Gilligan clarifica que a sua ética do cuidado é um complemento que amplia a ética da justiça de Kohlberg, desta forma, ambas as propostas, complementares, ampliam a aproximação aos princípios predominantes no Serviço Social, com base na noção de proximidade. Se tanto para Lévinas, como para Gilligan, a ética se produz em relação social e esta é uma das principais ferramentas de trabalho do Serviço Social, incorporar ambas poderia enriquecer a intervenção social. Tanto a ética da alteridade, como a do cuidado apostam essencialmente na consideração da relação cara a cara, um elemento emocional, que não foi tido em conta com a pertinência e relevância devidas anteriormente.

Sendo inegável e evidente a transcendência dos princípios ético-racionais na profissão, não basta aplicar apenas os princípios éticos de forma exclusivamente racional e abstrata nas intervenções profissionais, considerando os utentes como outro generalizado abstrato e universal, esquecendo o concreto do outro em cada sujeito concreto, que desperta quase inevitavelmente a nossa sensibilidade pré-racional e as nossas emoções. Ter em conta a emoção, leva-nos a humanizar mais a intervenção social. (Goldaracena e Pemán, 2012)

Bibliografia

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Goldaracena, Francisco I. e María Jesús Uriz Pemán (2012), "Aportaciones de la ética de la alteridad de E. Lévinas y la ética del cuidado de C. Gilligan a la intervención en trabajo social." Alternativas: cuadernos de trabajo social , 19: 33-44

Gomes, Carla Silene (2008), “Lévinas e o outro: a ética da alteridade como fundamento da justiça”, Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp113166.pdf, acedido a 1 de junho de 2016

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Kohlberg, Lawrence (1981), The Philosophy of Moral Development, San Francisco, Harper and Row

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Noddings, Nel (1984), Caring: a feminine approach to ethics and moral education, Berkeley, University of California Press

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Pereira, Miguel Baptista (1997), “FENOMENOLOGIA E TRANSCENDÊNCIA. A propósito de Emmanuel Lévinas (1995)”, Revista Filosófica de Coimbra, 11:3-62, (Edição original, 1906)

Reis, Nayara Borges (2008), "Um sentido sensível do mundo na filosofia de Merleau-Ponty.”, Marília, Unesp 1(1)

Richmond, Mary Ellen (1965), Social Diagnosis, The Free Press, New York, (Edição original, 1917)

Santos, Élcio José (2011) "SOBRE A CRÍTICA DE SCHOPENHAUER À DOUTRINA DAS CATEGORIAS DE KANT E SUA SUPOSTA REDUÇÃO À CATEGORIA DE CAUSALIDADE."

Schacht, Richard (2011), “O naturalismo de Nietzsche”, Cadernos Nietzche, 29, disponível em: http://www.cadernosnietzsche.unifesp.br/home/item/170-o-naturalismo-de-nietzsche, acedido em 02-06-2016

Silva Costa, Juliano Xavier e Renato Fernandes Caetano (2014), "A concepção de alteridade em lévinas: caminhos para uma formação mais humana no mundo contemporâneo.”, Revista de Estudos de Literatura, Cultura e Alteridade-Igarapé 3(2):195-210.


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O SERVIÇO SOCIAL (DES)SINDICALIZADO E A SUA RELAÇÃO HISTÓRICA COM OS MOVIMENTOS SOCIAIS


Alves (2014), descreve um sindicato como uma associação voluntária agregando interesses e valores partilhados pelos trabalhadores, no sentido de ultrapassar a competição entre si, objetivando defender e promover interesses comuns, estruturado por princípios organizativos (ramo de atividade, profissão, empresa/serviço) e  visando defender das perniciosidades da industrialização e arbítrio patronal,  participativo na regulação do mercado de trabalho, numa “ordem industrial” que proporcione justiça, ou como instrumento  de luta pela emancipação social. (Alves, 2014)

O movimento sindical atravessa uma grave crise, explicado em parte, por Alves (2014), devido a mudanças estruturais sociais (desagregação das comunidades de trabalho ou impossibilidade de as construir, condição essencial para que o desenvolvimento da ação coletiva se possa desenvolver), potencialização da instabilidade e insegurança no emprego(advinda da precariedade e do desemprego), transformações das características da classe trabalhadora (quantitativas e qualitativas), individualização das relações sociais de trabalho (ladeando-se a negociação coletiva, que perde eficácia e declínio da sua cobertura), fortalecimento do unilateralismo patronal (por via de práticas prepotentes, dominantemente cooptadas ou subtilmente coercivas, consentindo os trabalhadores nesta dominação, cooperando com a reprodução do capital) (Burawoy, 1979), desiguais  estilos de vida, etc.

Esta crise também se explica, segundo Alves (2014), pelas mudanças na estrutura política, nomeadamente, transformações na intervenção do Estado, por via de privatizações, desmantelamento do Estado Social e aumento do unilateralismo estatal, imposição de leis laborais des-reguladoras do mercado de trabalho e legislação anti-sindical, etc. Quanto às mudanças na estrutura ideológica, devem-se ao aumento do individualismo, à quebra da cultura operária com base em valores de igualdade, solidariedade, camaradagem, coletivismo, etc.

Para Tilly (1995), se não existir reforço da organização dos trabalhadores, a própria democracia arrisca-se a ser esmagada “pelas novas oligarquias do capital”, que os Estados não conseguem controlar e com as quais conspiram até, restabelecendo níveis de acumulação. Contudo, o futuro do sindicalismo depende inevitavelmente da existência de sócios, em construção de uma organização sindical nos locais de trabalho que permita reforçar a sindicalização (Alves,2014), numa aliança de “capacidade estratégica”, elaborando-se, implementando-se e difundindo-se uma agenda própria que expresse o pensamento, interesses e objetivos dos membros e que inclua reivindicações, seus projetos e a forma como são encaradas as relações sociais (Hyman, 1997, 2007). Alves (2014), refere ainda a importância de agrupar também a “solidariedade interna”, em reforço à democracia sindical, fortalecendo a coesão entre os trabalhadores e entre estes e a organização, aprofundando relações entre as várias organizações sindicais tanto a nível nacional como internacional e  o estímulo à “solidariedade externa”, onde sindicatos trabalhem na/com a comunidade envolvente, coligando outro tipo de associações em articulações de  coordenação  horizontal e vertical, ligando combates laborais e outros mais gerais. (Lévesque e Murray, 2003)

Carvalho da Silva (2009:1), refere que, “o sindicalismo emergiu como forma de organização da(s) classe(s) trabalhadora(s), numa construção coletiva, tornando-se uma extraordinária conquista dos trabalhadores, em primeiro lugar, contra as condições que lhes eram impostas, e logo, pela dignidade e por direitos no espaço de trabalho, dando sentido ao conceito de emprego”, assumindo-se, portanto, como um movimento de solidariedade e emancipação política em busca do fim da exclusão e exploração. Mas, à parte a natureza do sindicalismo, este surge conexo à evolução da sociedade no seu conjunto, pois tende a compensar a ausência de integração social advinda da destruição da solidariedade profissional, uma das consequências da sociedade industrial. Hugg Clegg (citado por Freire, 2001), menciona os sindicatos como umas das forças mais poderosas que modelam a nossa sociedade e determinam o nosso futuro, e diz que se a par da globalização existe solidariedade internacional, observa-se que os sindicatos além de competência de intervenção e transformação nacional atuam também a nível europeu e mundial, criando estruturas facilitadoras da comunicação entre países. Mas, por o poder sindical estar enfraquecido, a sua esfera de atuação a nível transnacional é como que inexistente, destacando-se como principais dificuldades para a transnacionalização do sindicalismo as raízes sindicais nacionais, a deficiente teorização sobre o tema, as diferenças de país para país em termos legislativos, a interferência de atores patronais e estatuais,  a competitividade intrasindical, as atitudes sindicais de resistência, o apoio insuficiente das instituições regionais de regulação laboral e a debilidade dos interesses sindicais. (Ribeiro, 2013)

Ribeiro (2013), argumenta que a reinvenção do sindicalismo requer a sua ascensão a sindicalismo de movimento social global, com intervenção dos cidadãos e extensível ao além da esfera laboral, defendendo valores democráticos a alargar à democracia, deve também possuir preocupações ambientais, defender os consumidores e colocar os saberes e tradições locais no núcleo das lutas e negociações, dotando-se de capacidade de resistência ao capitalismo destrutivo. O diálogo social deve integrar o debate democrático e contribuir para o aprofundamento da democracia laboral e normas laborais, porque “as relações laborais poderão numa perspetiva emancipatória, transformar-se de relações de subordinação em relações de autoridade partilhada, (re)democratizando-se assim o espaço de produção (Estanque e Ferreira, 2002:156).

A diminuição dos níveis de sindicalização não significa uma rejeição ou distanciamento dos trabalhadores em relação aos sindicatos, pois quando têm um problema é a estes dirigentes que procuram. Em Portugal, normalmente os trabalhadores não se sindicalizam devido à obrigatoriedade do pagamento de quotas e ao medo de represálias no local de trabalho, quando, no entanto, o movimento operário sempre foi a base do sindicalismo em Portugal. A conceção das relações de classe baseia-se nas contradições de classe, herdadas do marxismo, uma visão, contudo, inadequada à realidade do nosso país, porque a classe do indivíduo deixou de ser fator determinante do conflito político, numa esfera política que persiste em exibir-se como base principal das desigualdades, relativamente aos distintos acessos que os indivíduos têm ao poder (Ribeiro, 2013). Esta politização, no seio do sindicalismo e da luta de classes, é representativa de um dos principais obstáculos ao compromisso entre empregadores e empregados, para acordo quanto à atuação na esfera laboral, sendo o sindicalismo português politizado, orientado para a intervenção do Estado e até dependente dele” (Stoleroff, 1998:148)

Como principais obstáculos e desafios colocados ao sindicalismo em Portugal, Ribeiro (2013) aponta a dispersão e a localização dos pontos de conflito (em prejuízo da mobilização para a ação), o crescimento do poder económico e financeiro (em detrimento do poder político), a dificuldade na análise das evoluções estruturais e organizacionais do capital, atrasos na resposta a problemas fundamentais (aumento da esperança média de vida, imigração, aumento quantitativo e qualitativo das mulheres no mercado de trabalho e a exigência de novas competências), dificuldades no rejuvenescimento e renovação dos sindicalizados, articulação da intervenção local com uma intervenção alargada e reafirmação do espaço dos sindicatos (divulgação dos seus valores e objetivos). O contexto político é pouco favorável à participação coletiva, dotando o patronato de mais poder e retirando condições favoráveis à ação sindical, impedindo o desenvolvimento da atividade sindical, e contribuindo para o enfraquecimento dos valores de uma sociedade democrática avançada (Estanque, 2013). Como efeito das políticas neoliberais no mundo do trabalho destacam-se, a existência de um mercado desregulado e a intensificação das velhas e novas formas de exploração. A acrescer, com os sindicatos concorrem também os advogados, que devido à falta de trabalho se especializam nas questões laborais, dando resposta às necessidades dos trabalhadores. (Ribeiro, 2013)

Noutra perspetiva, Ribeiro (2011) aclara que, a organização dos estudantes de Serviço Social em Portugal após 1974 participou ativamente nas lutas entabuladas pela categoria profissional, estabelecendo-se alianças na defesa de direitos transversais a todos os estudantes. Presentemente, os estudantes não se mobilizam, estão” apáticos”, após um 25 de Abril que “abriu” os alunos ao movimento estudantil, participando estes ativamente no processo de transformação da sociedade, nas lutas da categoria profissional e na gestão democrática das instituições de ensino por via do princípio da representatividade. Aliados à categoria profissional, os estudantes lutaram pela integração da formação no ensino superior oficial e obtenção de grau académico, numa forte mobilização com impacto nacional. A categoria profissional reconheceu à data, a importância da participação dos estudantes para a materialização da luta, em que o contributo dos estudantes foi essencial para a conquista, num processo que demonstrou dinamismo e poder da sua união. A partir de 2004, a organização estudantil decaiu e tornou-se impercetível, virando-se as Associações de Estudantes para o interior das suas instituições, sendo as suas atividades maioritariamente direcionadas para o lazer. As atividades de carácter solidário adotam características conservadoras e assistencialistas e a participação dos estudantes nas dinâmicas destas organizações transformou-se num meio de alcançar objetivos pessoais, curriculares e políticos. Os princípios individuais sobrepuseram-se aos coletivos, que se resumem à defesa dos interesses dos alunos dentro das suas instituições, numa ausência de participação ou integração na categoria profissional. As Associações de Estudantes não têm a dimensão política de outrora, interessando questionar a fraca participação dos estudantes de Serviço Social, nas suas entidades representativas.

A atual conjuntura política, social, económica e cultural e as mudanças da formação, concorda Ribeiro (2011) que, alteraram expressivamente o perfil dos estudantes acentuando a sua situação de fragilidade, onde à vista de um mercado de trabalho, cada vez mais neo-liberal e precário, talvez seja vantajoso formar quem aplique apenas políticas sociais assistencialistas sem questionar, assistindo-se ao retrocesso de ideais defendidos e à retirada dos direitos democraticamente conquistados, numa dimensão coletiva estrangulada e desconsiderada pelos próprios estudantes, onde as referências históricas se desvalorizam, prevalecendo o excesso de preocupação com o futuro, desprezando-se um possível espaço político de, resistência, defesa da qualidade da formação e direitos sociais. O número de alunos de Serviço Social aumentou, a precarização da formação e do mercado de trabalho são visíveis para os estudantes e para a categoria profissional, contudo, é inegável a necessidade social de defesa de direitos, por parte dos profissionais de Serviço Social, mas mesmo assim os alunos não reagem, apenas se adaptam.

No entanto, não se pode culpabilizar os estudantes quanto à sua ausência da mobilização, pois esta situação deve-se a fatores conjunturais, as relações dos estudantes com as entidades da categoria são quase inexistentes, não se veem os estudantes como futuros profissionais e parte integrante e essencial da categoria profissional, e não se lhes reconhece a importância devida nas lutas de classe profissional. A sua cooperação ativa nas lutas e conquistas do passado caiu no esquecimento, quando os estudantes de hoje são os profissionais de amanhã que têm de responder ativamente aos desafios profissionais e sociais da atual conjuntura. No entanto, é essencial que os estudantes reconheçam o seu poder reivindicativo e mobilizador, que reconsiderem e potenciem a sua politização e criticidade perante a realidade que os rodeia, destacando-se desta forma como agentes ativos de transformação, consciencializando-se do relevo do seu percurso histórico onde assumiram uma posição de sujeitos políticos, ativistas da construção da identidade e afirmação do Serviço Social, resgatando e revitalizando desta forma, a legitimidade e o impacto de antigamente. (idem)

Iamamoto e Carvalho (2006), defendem que, o Serviço Social profissão fundamentalmente ligada a interesses classicistas contraditórios e que fundamentam a sociedade capitalista, afirmou-se como especialização do trabalho coletivo, expressando necessidades sociais advindas da prática histórica das classes sociais em confronto à “questão social”, sendo a demanda colocada ao assistente social inspirada pela classe oposta àquela, alvo de intervenção. Empregado por instituições ocupadas por setores da classe dominante, o assistente social interfere nas condições de vida dos trabalhadores, incorporando o processo de criação das condições imprescindíveis ao funcionamento da força de trabalho, entendendo-se o Serviço Social como uma profissão de natureza contraditória, pois vincula-se a interesses contraditórios em ambas as classes sociais que firmam a realidade social. (Duriguetto e Baldi, 2012)

Na linha de pensamento de Abreu (2002:17), o Serviço Social possui uma função pedagógica materializada “por meio dos efeitos da ação profissional na maneira de pensar e agir dos sujeitos envolvidos nos processos da prática”, onde para Abreu e Cardoso (2009) as ações de mobilização e de organização são “elementos constitutivos e condição indispensável na concretização das práticas educativas desenvolvidas pelo assistente social”. Estas ações unem diferentes projetos societários das classes sociais, sendo que “uma direção circunscreve essas ações no horizonte histórico do Estado do bem-estar” e outra vincula-as às lutas dos trabalhadores “para garantia e ampliação das conquistas sociais e políticas” e o “avanço dessas lutas na perspectiva do fortalecimento dos processos de superação da ordem burguesa e da conquista da emancipação humana”. A vinculação a uma ou outra direção “é determinada pelos compromissos profissionais estabelecidos com as classes sociais e materializa-se pelos efeitos da ação profissional no modo de pensar e de agir dos sujeitos envolvidos nos processos das práticas educativas” (Abreu e Cardoso, 2009: 600-605).

O “fortalecimento dos espaços de luta dessas classes” possibilitam a composição de “sujeitos coletivos capazes de participar da construção da hegemonia das referidas classes, construindo espaços de debate legal e político, ou seja, “espaços de luta, espaços de enfrentamento entre interesses antagônicos, na explicitação de demandas das classes subalternas e implementação de respostas às suas necessidades”  (Duriguetto e Baldi, 2012:198). Utilizar  a comunicação social por via da linguagem escrita e audiovisual, propulsiona também a consciência crítica e a formação de sujeitos coletivos, produzindo dados relativos às diferentes expressões da questão social vividas nos diferentes espaços sócio ocupacionais (Cardoso, 1995). Desta forma, numa dimensão ideopolítica da intervenção do Serviço Social, habita a hipótese de influência crítica dos assistentes sociais relativamente aos valores, comportamentos e ações dos sujeitos com os quais trabalham. (Duriguetto e Baldi, 2012)


Bibliografia
Alves, Paulo Marques (2014), “O Movimento Sindical Português no Turbilhão da Crise Global do Sindicalismo”, in Raquel Varela e Paulo Mattos (orgs.), Demografia e Relações Laborais, Lisboa, Edições Colibri
Burawoy, Michael (1979), “Manufacturing Consent. Changes” em  The Labour Process under
Monopoly Capitalism, Chicago, University of Chicago Press
Tilly, Charles (1995), "Globalization threatens labor's rights.", International labor and working-class history, 47 1-23
Hyman, Richard (1997), “The future of employee representation.", British Journal of Industrial Relations, 35(3):309-336
Hyman, Richard (2007), "How can trade unions act strategically?”, Transfer: European Review of Labour and Research, 13(2):193-210
Lévesque, Christian e Gregor Murray (2003), "Le pouvoir syndical dans l’économie mondiale: clés de lecture pour un renouveau.", La Revue de l’IRES, 41:149-176
Ribeiro, Sara Cristina Mendes (2011), "Movimentos e lutas estudantis em serviço social nas últimas décadas em Portugal e no Brasil."
Ribeiro, Vera da Conceição Pires (2013), Sindicalismo em Portugal: limites e desafios, Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Duriguetto, Maria Lúcia e Luiz Agostinho de Paula Baldi (2012), “Social Work, mobilization and popular organization: a systematization of the contemporary debate.", Revista Katálysis ,15(2): 193-202
Iamamoto, Marilda Vilela e Raul de Carvalho (2006), Relações Sociais e Serviço
Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica, São Paulo Cortez, (2ª Edição)
Abreu, Marina Maciel e Franci Gomes Cardoso (2009), "Mobilização social e práticas educativas.", Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais, CFESS/ABEPSS, 593-608
Cardoso, Franci Gomes (1995), Organização das classes subalternas: um desafio para o Serviço Social, São Paulo Cortez Editora e EDUFMA
Freire, João (2001), Sociologia do Trabalho - uma introdução, Porto, Edições Afrontamento
Estanque, Elísio e António Casimiro Ferreira (2002), “Transformações no mundo laboral e novos desafios do sindicalismo português”,  Revista Crítica Ciências Sociais, Coimbra, Oficina do CES 62:151-188
Stoleroff, Alan (1988), “Sindicalismo e relações industriais em Portugal”, Sociologia, problemas e práticas, 147-164

Ajuda e suporte mútuos em saúde mental


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Caso Social Individual


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Serviço Social - Identidade e Reflexão


Na visão de Granja (2011), a construção identitária dos assistentes sociais como grupo profissional (identidade coletiva) produz-se pela interação do sujeito com outros inseridos nas estruturas de socialização profissional (formação, integração nos grupos de pares, contextos institucionais, dinâmicas do mercado de trabalho e processos sociais); efetiva-se desta forma a intervenção profissional, organizando estruturas sociocognitivas, produção de experiência, sensibilidade e interiorização de valores. A reflexão sobre a ação constitui a construção e reconstrução identitária profissional; o trajeto da ação (presente e futuro) influencia-se mutuamente e conflitua agir profissional e conhecimento científico forçando a articulação das lógicas do agir profissional e as lógicas dos sistemas e atores, coagindo os profissionais a escolhas e decisões responsáveis por afetos e emoções num sistema constante e ativo no tempo e no espaço.

A reflexão é essencial para o distanciamento, contestação e comparação, certificando a conformidade entre variáveis reguladoras dos problemas e as estratégias de ação para a sua resolução; construir conhecimento é observar, refletir, dar sentido à experiência, aprender a agir em situação, sentir e gerir os sentimentos, as emoções a vida e as relações com as pessoas (Charlot, 2004). A identidade reflexiva obedece a interações: necessita de experiências relacionais para se construir; engloba interação, atividade cooperativa, processos de decisão, supervisão, pedido de ajuda ou conselho, debate contraditório ou avaliação. A prática reflexiva explana a “mediação de conceitos que possibilitam nomear e (re)construir problemas”, experiência e programas operacionais; permite ponderar a pertinência dos fenómenos, numa base analítica, nomeando padrões regulares na atividade profissional para que se reconheçam, explicitem e transmitam, como procedentes do saber profissional. (Granja, 2011:161) 

A análise da ação profissional não se limita à análise do saber fazer dos procedimentos profissionais desenvolvidos na atividade; inclui a descrição do saber fazer nos processos reflexivos e críticos, dos processos de aprendizagem e saber agir e a superação da leitura empirista da atividade, onde a teoria não se desprende da ação, mas explica a dinâmica social e norteia as possibilidades da ação nos processos sociais (Neto, 2000, citado por Granja, 2011:163). Ações profissionais, reuniões, encontros formais e informais ocasionam reflexividade e produzem “filtragem identitária”, em que as opções são conduzidas pelo saber fazer profissional, reelaborando identidades coletivas inerentes às identidades individuais que as sustentam (Granja, 2011:164). Se, essa linguagem perfilhar a estruturação e formalização escrita, valora o profissionalismo do grupo (Lopes e Pereira, 2004), confere significado aos novos sistemas de validação, corrobora as configurações da identidade profissional e materializa e qualifica o discurso comum sobre o trabalho (alvo do pensamento). (Granja, 2011)


By Fatma

Bibliografia:
Granja, Berta P. (2011), Assistente social-Identidade e saber, Dissertação de doutoramento em Ciências do Serviço Social, Porto, ICBAS

Modelos de Intervenção Social

Fonte: http://servicosocial.pt

"A Intervenção Social em Serviço Social é concetualizada, neste artigo, como instrumento da prática profissional e como reflexo dos contextos circundantes ao sistema profissional e ao sistema económico, politico e ideológico tendo como finalidade a mudança de todas as situações geradoras de tensão e desequilíbrio social ou potenciadoras de exclusão. Permite-nos identificar o propósito da Intervenção Social como um elemento identitário da profissão de Serviço Social e simultaneamente refletir sobre as potencialidades e constrangimentos que se afiguram, atualmente, ao seu reconhecimento como metodologia de ação científica e profissional onde uma polissemia de modelos de organização do agir profissional parece resultar no esvaziamento de uma prática consistente com as finalidades evolutivas e políticas do Serviço Social moderno."

In: Santos, C. C. (2014). Organização da prática profissional do serviço social em modelos de intervenção social.

Serviço Social - Utopia ou Realidade?


"...Os assistentes sociais durante o exercício profissional são confrontados com a necessidade de atingir objetivos e metas, fazendo recurso a estratégias metodológicas e intencionalidades teóricas, mas muitas vezes sem equacionar o lugar que a relação com a pessoa utilizadora do serviço pode ocupar nesta intervenção. 

…A relação profissional do assistente social com a pessoa utilizadora do serviço tem sido abordada desde o início do exercício da profissão de assistente social, de uma forma mais ou menos explícita, tal como afirma Hamilton (1941) quando define o Serviço Social como “a arte de ajudar as pessoas a se ajudarem a si mesmas, cooperando com elas a fim de beneficiá-las e, ao mesmo tempo, a sociedade em geral” (Vieira, 1985:71). 

A análise da relação profissional é orientada pelos pressupostos ontológicos, teóricos e metodológicos que a sustentam e que se passam a apresentar: 

a) A Dimensão Ontológica da Relação Profissional

Analisar a dimensão ontológica da relação entre o assistente social e a pessoa utilizadora do serviço engloba a compreensão da natureza da relação, a dinâmica dos elementos em presença no processo de construção da relação e os seus constrangimentos.
A intervenção do assistente social verifica-se em situações de grande vulnerabilidade em que as pessoas sentem como fundamental a confiança, ou seja, a possibilidade de poderem ser aceites, de receberem apoio e terem como interlocutor um profissional que lhes oferece uma relação de ajuda, o que constitui elemento fundamental na motivação da pessoa, que responde com uma perspetiva de colaboração e responsabilidade para com a sua situação. O profissional assume uma atitude de empatia, em que a compreensão da pessoa utilizadora do serviço tal como é sustenta uma relação baseada na verdade, sem criar falsas expectativas ou abarcar objetivos irrealistas. 
A relação constitui-se como um meio para o desenvolvimento da pessoa utilizadora do serviço e através das características dessa mesma relação será possível a pessoa tornar-se mais consciente da sua situação e assumir a responsabilidade do processo de intervenção. O assistente social acredita nas capacidades da pessoa utilizadora do serviço e comunica-lhe essa confiança, numa perspetiva de capacitação, em que a pessoa possa assumir as decisões sobre a sua vida (Robertis, 2003) Esta relação constitui-se como um processo em que o acolhimento do utilizador do serviço assume um papel fundamental, na medida em que possibilita clarificar os procedimentos implicando a pessoa num projeto de trabalho em comum. É importante que a pessoa utilizadora do serviço possa desconstruir ideias preconcebidas acerca do assistente social e do serviço onde ele está inserido. De fato a partir da atitude do assistente social a relação vai sendo construída com base no investimento de ambos, com implicações e resultados na intervenção que se começa a desenhar. Mas torna-se claro que a responsabilidade pela relação é sobretudo do profissional, pelo saber que possui acerca das diferentes abordagens e respostas sociais e pela posição de poder que ocupa na organização. 
Na relação profissional que o assistente social estabelece com o utilizador do serviço surgem elementos constitutivos dessa relação ligados ao profissional, ao utilizador do serviço e à organização, numa referência à abordagem de Payne (2002) que define que o Serviço Social é desenvolvido na dinâmica entre os utilizadores dos serviços, o profissional, a sua formação e a própria organização em que o assistente social está inserido. 

O assistente social constrói essa relação com base nos conhecimentos teóricos e práticos adquiridos na formação académica, mas também as características pessoais e as suas atitudes e comportamentos, a sua trajetória de vida pessoal e profissional que condiciona o modo como se relaciona com os utilizadores do serviço e justifica a necessidade de um conhecimento de si que objetive aquilo que por natureza é subjetivo. O facto de o assistente social ter de compreender e gerir os seus sentimentos assim como a preocupação pelos sentimentos das pessoas utilizadoras dos serviços justifica a necessidade de ser emocionalmente inteligente (Howe, 2008), ajudando o profissional a lidar com situações de grande tensão emocional, compreendendo a sua existência é mais fácil responder de forma adequada, aumentando a qualidade dessa mesma relação. 

Os assistentes sociais na construção da relação valorizam competências ao nível cognitivo, relacional e ético-político. Por um lado destacam a necessidade de conhecimentos teóricos, que operacionalizam na relação com o utilizador do serviço, com a equipa e com as outras entidades, mas igualmente competências relacionais onde se destaca a questão da comunicação. 

O assistente social tem de gerir questões, muitas vezes delicadas, em que há reações emocionais diversas e ressalta a necessidade de uma prática reflexiva, individualmente ou através de um trabalho em equipa. Nestes casos a supervisão ajudará a desenvolver uma relação mais apropriada aos objetivos do trabalho a desenvolver. A organização em que o profissional está inserido é igualmente um elemento constitutivo da relação, que condiciona, positiva ou negativamente a construção da relação. 

A forma como a organização está estruturada, a nível dos procedimentos e dos problemas aos quais dá resposta influencia o modo como o assistente social se pode relacionar com o utilizador do serviço. Os assistentes sociais salientam o grau de formalidade, a dificuldade de concretização da resposta por parte da organização, por razões económicas ou outras, mas também não deixam de salientar a capacidade, por parte do profissional, de encontrar estratégias alternativas, que permitam ultrapassar esses constrangimentos. 

E o assistente social pode e deve encontrar formas de ultrapassar essas limitações em benefício da pessoa utilizadora do serviço, no que a experiência profissional desempenha um papel importante, pois o facto de o assistente social ter já alguma experiência profissional aliado à sua inserção na organização permite estabelecer novas formas de intervir. Para além do assistente social e da organização há que assinalar ainda a pessoa utilizadora do serviço como um terceiro elemento que, através das suas características, da própria experiência com os profissionais e da natureza do problema que enfrentam vai influenciar a natureza da relação que será construída. 

A relação que se estabelece entre o assistente social e a pessoa utilizadora do serviço será sempre uma relação de natureza profissional, em que o ponto de partida são as necessidades da pessoa e as suas expectativas, escutadas pelo profissional e devolvidas à pessoa, permitindo a elaboração diagnóstica e a definição conjunta do trabalho a realizar. Ao risco de manipulação (Rhodes, 1986) os assistentes sociais respondem com reciprocidade, participação e responsabilidade partilhada em que a mudança não poderá ser apenas desejada pelo profissional, mas este, através do conhecimento que dispõe e da sua experiência profissional e pessoal, poje ajudar a pessoa utilizadora do serviço a clarificar a sua situação, refletir, tomando as decisões quanto ao caminho que quer seguir. 

b) A Dimensão teórica da Relação Profissional

Os assistentes sociais assumem a relação com as pessoas utilizadoras dos serviços como uma dimensão da prática profissional, um elemento facilitador da intervenção assim como potenciador da qualidade dessa mesma relação. A relação traduz-se na participação do indivíduo no projeto de intervenção aumentando por isso a eficácia da mesma. A relação vai configurando-se no processo da prática profissional do assistente social, assumindo contornos de acordo com as características do profissional, do utilizador do serviço, da organização em que a prática ocorre, do contexto que a envolve e dependendo também da fase do processo da intervenção. Os assistentes sociais entrevistados valorizam a relação como suporte da intervenção mas também como elo de ligação aos utilizadores dos serviços quando a intervenção sofre algum revés. Pode afirmar-se pelo discurso dos entrevistados que a construção da relação, que se inicia no acolhimento do utilizador do serviço é precursora da intervenção, acompanhando essa mesma intervenção e, em diferentes situações, é a relação que permite fazer a passagem entre ruturas e desequilíbrios dessa mesma intervenção. Num domínio operativo poder-se-á recorrer ao pensamento de Brammer (2003) para ilustrar o lugar da relação, definindo o processo de ajuda por uma fase de construção da relação e uma segunda fase de facilitação da ação. Na primeira são necessárias competências a nível de compreensão e suporte, e na segunda são valorizadas competências de decisão e ação. Para este autor a relação é o meio através do qual o profissional e a pessoa utilizadora do serviço expressam e realizam as suas necessidades, o que faz com que seja fundamental no processo de ajuda. 

A relação profissional que o assistente social estabelece com o utilizador do serviço é concebida como uma relação de ajuda na promoção da autonomia, capacitadora no sentido do empowerment. Se, na prática profissional, os assistentes sociais se tornam aliados das pessoas utilizadoras dos serviços e tentam com eles modificar as condições nefastas e as relações sociais inadequadas entre o contexto social e as populações, assumindo, muitas vezes, a sua defesa, o fim último da intervenção centra-se no exercício pleno da cidadania por parte dos sujeitos, como afirma Adams (2005) “Os assistentes sociais devem estabelecer uma relação com os utilizadores dos serviços para que a intervenção seja produtiva. A relação em Serviço Social é uma relação de ajuda, capacitadora ou de empowerment (2005:15), e nessa medida valorizam a escuta e a empatia do profissional, que lhes permite sentirem-se compreendidos e clarificarem a sua situação, não deixando de apontar a necessidade de uma ajuda prática, operacional em direção às suas necessidades e condições. A relação assenta numa postura colaborativa, na interação entre pessoas que participam simultaneamente num processo interpessoal, distinguindo-se de outras relações com a sua intencionalidade consciente, baseada no conhecimento para alcançar o objetivo (Pearlman, 1980:89). 

A perspetiva que está subjacente ao discurso dos entrevistados é de natureza humanista, em que há uma preocupação pela compreensão da subjetividade do outro, base do diagnóstico permanente e da escuta ativa. O objetivo da intervenção é ajudar as pessoas a atingir a sua autonomia, partindo da interpretação que cada um faz de si mesmo e valorizando essa interpretação e soluções propostas. A intervenção é centrada na pessoa e é através deste processo que o profissional consegue compreender a situação da pessoa utilizadora do serviço, numa intervenção em que se procuram as suas capacidades e potencialidades, para além da situação problema que apresenta. Há uma crença naquilo que são os recursos pessoais de cada um, internos ou externos e ainda aquilo que são as suas potencialidades, centrando-se a metodologia da intervenção no desenvolvimento dessas capacidades, que facilitarão que cada um obtenha o domínio sobre a sua própria vida. Os assistentes sociais conceptualizam a intervenção centrada na solução e nas forças, e não apenas no problema, descobrindo que os indivíduos na sua trajetória já produziram esforços que devem ser valorizados (Saleebey, 2009). 

Os assistentes sociais assumem igualmente o impacto do “eu” na relação, através da influência das suas experiências pessoais, a sua personalidade, o que leva á caracterização da relação entre os assistentes sociais, os utilizadores dos serviços e o contexto como reflexiva, na medida em que cada um afeta o outro (Payne, 2002), ideia que é reforçada por Robertis (2003) quando esta afirma que a construção de uma relação é facilitadora da intervenção e que a relação entre o profissional e a pessoa utilizadora do serviço é o meio mais potente de provocar a mudança, na medida em que “(…) é sempre uma situação interativa na qual as influências e transformações são recíprocas” (Robertis, 2003: 78). Relação Profissional: Utopia ou Realidade? 206 O enquadramento conceptual da relação está sustentado num processo com recurso à perspetiva das forças, definindo a linguagem como o meio através do qual se chega à mudança (Howe, 2009). 

c) Dimensão metodológica da relação profissional 


Os assistentes sociais referem sobretudo o atendimento como o procedimento através do qual se estabelece e aprofunda a relação com a pessoa utilizadora do serviço. É no decurso deste processo de intervenção que se faz o acolhimento da pessoa e se delineia o plano de intervenção que começa a ser co-construído, recorrendo a técnicas como a entrevista e a observação e a visita domiciliária. Importa referir aqui a visita domiciliária, como instrumento privilegiado de aproximação do assistente social com a pessoa utilizadora dos serviços. Ferreira (2011) refere no seu estudo a visita domiciliária como procedimento de trabalho a nível de diagnóstico e do acompanhamento social. Para este autor “a visita domiciliária é definida como uma entrevista efetuada no domicílio do utente que visa aprofundar a compreensão /diagnóstico e o estudo e a observação do ambiente familiar. É um instrumento de trabalho de recolha de informações, que permita uma análise da situação” (Ferreira, 2011:281) 

Desde o início da profissão que a visita domiciliária constitui um importante instrumento de apreensão da realidade social, embora inicialmente tivesse como objetivo o controle das famílias visitadas, numa perspetiva de controlo e normalização social, e em que as organizações religiosas e filantrópicas impunham padrões de higienização assim como morais. 

Hoje a visita domiciliária é um meio de aproximação do profissional e da instituição social com o utilizador do serviço, na medida em que permite avaliar as necessidades e potencialidades de uma forma mais próxima e enquadradas no meio em que a pessoa está inserida. A recolha de dados é partilhada com o utilizador do serviço e tem de ser contextualizada, para isso o assistente social tem de ter conhecimentos acerca do meio em que a pessoa está inserida assim como uma consciência da situação económica e política vigente que lhe permita uma interpretação de acordo com as reais necessidades e potencialidades da pessoa, fundamentando-a numa abordagem ecológica, em que as condições de vida de uma pessoa não podem ser isoladas das condições de vida da comunidade que, por sua vez, não estão separados do contexto social e histórico. 

A visita domiciliária é assim um espaço privilegiado de construção da relação, em que o assistente social se desloca à esfera privada da pessoa, numa perspetiva de diminuir a desigualdade de poder e aumentar a relação de confiança. A atitude do profissional deve ser sempre de respeito, não esquecendo que se está a entrar num espaço privado e a própria partilha da informação entre colegas, não deve revelar mais do que o essencial à compreensão da situação, sendo importante que o profissional informe com clareza o objetivo da visita, que seja acordado com o utilizador do serviço os motivos da sua realização e que a recolha de dados incida nos elementos que são importantes à análise da situação. 

A visita domiciliária também pode ser assumida como o local onde decorre a intervenção, e nesse sentido são definidos princípios orientadores da prestação dos serviços: 
  • A intervenção deve ser individualizada, tendo em conta a situação atual e uma das potencialidades da visita domiciliária é o facto de poder facilitar intervenções individualizadas para responder às necessidades de cada membro da família. 
  • A família é considerada como um sistema em que a mudança num individuo influencia todos os outros membros assim como o funcionamento global da família. 
  • A relação de ajuda deve ser conceptualizada como colaborativa entre o profissional e o utilizador do serviço, colocando a ênfase na importância da família trabalhar em cooperação e de uma forma ativa como os assistentes sociais. A família tem a responsabilidade de participar ativamente e o assistente social tem a responsabilidade de tornar a relação colaborativa possível. 
  • O assistente social deve ser flexível e responder de imediato às necessidades da família assim como aos seus objetivos a longo prazo. 
  • Os assistentes sociais devem ajudar as pessoas a identificar as necessidades assim como as opções de lhes responder, a partir das suas forças e da aprendizagem de novas habilidades. 
  • O assistente social deve estar atento a futuras necessidades da família e ajudá-los a considerarem novas habilidades e atitudes em situações futuras, pois o assistente social deve apoiar as famílias no seu processo de independência 
  • O assistente social deve avaliar as forças, as limitações e o progresso da família de uma forma contínua e utilizar o seu conhecimento para modificar as intervenções quando necessário. (Wasik e Bryant, 2001: 48-51). 
O assistente social constitui-se como um profissional cuja prática se exerce no domínio das relações interpessoais, se considerarmos para além da relação com a pessoa utilizadora do serviço, a relação que estabelece com outros profissionais, no domínio da interdisciplinaridade e da articulação entre instituições, numa construção de parcerias. De acordo com a complexidade dos problemas sociais com que o profissional e defrontado surge a necessidade de uma resposta que muitas vezes ultrapassa um campo profissional surge a interdisciplinaridade como proposta “(...) cuja visão de homem e de mundo volta-se para a globalidade, para a unidade do ser humano, para a interação, para a compreensão e modificação do mundo” (Sampaio et al, 2000:78). Nesta perspetiva reconhecem-se os limites e as especificidades, procurando uma unidade do saber que permita chegar à compreensão e à mudança desejada. O assistente social reconhece igualmente a necessidade de um trabalho em rede, com parcerias com outras instituições que permita responder de uma forma global e articulada, em que as sinergias de tempo e recursos beneficiam quer os profissionais como as pessoas utilizadoras dos serviços. O serviço social é uma disciplina das ciências sociais que partilha o seu saber com outras áreas de atividade sendo a intervenção do assistente social contextualizada pelos domínios económicos, políticos assim como as opções teóricas e metodológicas do profissional e a relação este estabelece com os indivíduos, grupos e comunidades é uma das possibilidades do profissional em considerar a pessoa como única e distinta de todas as outras, constituindo o elemento diferenciador em resposta aos procedimentos impostos pelas organizações e pelas políticas sociais implementadas. (...) Para alguns profissionais a relação é mesmo um dos “principais aspetos da especificidade do serviço social” (Amaro, 2012: 140) e assiste-se a um otimismo por parte dos profissionais, uma crença na relação que estabelecem e no seu desempenho profissional. Mas esta relação de ajuda rompe com os parâmetros assistencialistas, em que as pessoas utilizadoras dos serviços eram constituídas como beneficiários de uma intervenção. Neste quadro da prática profissional, em direção a uma cidadania, as pessoas utilizadoras dos serviços constituem-se como sujeitos da intervenção, atores no desenho do seu projeto de vida e este é um desafio que se coloca ao assistente social e à relação profissional que estabelece com a pessoa utilizadora do serviço, em que o vínculo é contratualizado numa relação profissional mas em que interagem duas pessoas, com personalidades, percursos de vida e formações e é desse encontro que nasce a relação que terá sempre um carácter único e irrepetível, tornando necessário que o profissional tenha consciência que o serviço social tem um enorme impacto na vida das pessoas e os profissionais têm de saber o que é a sua profissão e como agir (Beckett,2006)." 


PENA, Maria João Barroso - Relação profissional: utopia ou realidade? Lisboa: ISCTE-IUL, 2012. Tese de doutoramento. Disponível em: http://hdl.handle.net/10071/6348

O objeto do serviço social




Na atualidade a diversidade de objetos e especificidades apresenta-se como uma possibilidade teórico-prática para o Serviço Social num quadro de globalização e cidadania social. Um outro domínio importante no Serviço social são as estratégias profissionais (Faleiros, 2007:31) ”A articulação das mediações particulares, individuais ou coletivas, exigidas pelo trabalho quotidiano, com as exigências do contexto económico, político, imaginário, ideológico é que vai permitir a construção de estratégias no tempo social, familiar e especifico solicitado pelos utentes na relação com a intervenção profissional e institucional”. “A construção do objeto implica, assim, tanto a análise das questões mais gerais (economia, instituições, politicas) como dos micro poderes (lógicas dos actores sociais), (Martin e Royer, 1987 in Faleiros, 2007:33). Freynet (1995), defende para o Serviço Social um papel de mediador de conflitos, tendo por missão intervir sobre as tensões, os conflitos, as violências, entre grupos excluídos, a sociabilidade local e a sociedade instituída. O Serviço Social promove a comunicação entre sistemas, nomeadamente no que respeita a dificuldades de relação entre sistemas e promove a interligação entre sistemas e recursos, e sistemas e utilizadores. 

Utilizando uma terminologia muito identificada com Vicente Paula Faleiros, (1995) e de Alcina Martins (1999) designada construção/ desconstrução do objecto do Serviço Social, passamos a identificar de forma sintética cinco períodos de desenvolvimento do Serviço Social no domínio da construção do seu objeto de intervenção. 

1º período : 1940 – 1960 

Este período é identificado com a emergência do Serviço Social na Europa, e com o surgimento das primeiras Escolas de Serviço Social em Portugal. (Ferreira, 2008; Martins, 1999). 

Na sequência da revolução industrial e da teoria marxista (divisão sociotécnica do trabalho) iniciou-se um debate técnico-científico (mais centrado no campo profissional) sobre a intervenção do Assistente Social, reconhecendo que no quadro da complexidade dos problemas sociais esta não pode ser improvisada, mas sim baseada num conjunto de conhecimentos de diferentes disciplinas, que lhe permitam definir um quadro metodológico próprio no marco das Ciências Sociais e Humanas. M. Richmond (1922), considerava existir o mesmo espaço científico e profissional nas disciplinas que constituem as ciências sociais, restringindo a cada uma delas um campo particular de metodologia, de construção de objetos e objetivos. 

O Serviço Social assume nesta fase uma dimensão preventiva, embora identificada com a perspectiva assistencialista. 

2º período : 1960 - 1980 

Este período identifica-se com um período histórico que apresenta alterações na vida social e quotidiana, a permissão de admissão de Homens à formação em Serviço Social (1961) e marcado pelo modelo de desenvolvimento comunitário, principalmente em meio rural. Assim, o objeto de Serviço Social é identificado com o referencial da integração “meio – personalidade”, através dos valores dominantes nas relações sociais. Valores dominantes assumidos pelo Serviço Social no processo da integração e adaptação que procura articular a intervenção individual com a intervenção comunitária e grupal. É neste período que surgem no debate técnico-científico as dimensões sobre um método único de intervenção em Serviço Social denominado: diagnóstico/ tratamento / avaliação. Neste período a intervenção do Serviço Social é marcada pelos contributos da teoria crítica desenvolvida pela Escola de Frankfurt e por uma dimensão Funcionalista, tendo por base uma perspetiva Desenvolvimentista. 

Nos anos 80, o Serviço Social define um novo eixo como profissão e como disciplina científica no marco das Ciências Sociais e Humanas, emergente no quadro da reconceituação. O processo de reconceituação do Serviço Social teve como objetivos produzir uma mudança no marco conceptual da profissão e produzir mudança no conteúdo ideológico da profissão. Implicou ainda uma mudança na intencionalidade da prática profissional do Assistente Social em busca de uma nova metodologia e reformulação da anterior. Este processo promoveu uma leitura histórico-critica á conceção funcionalista e de desviância social, criando assim uma rutura com a conceção assistencialista que sofre mudanças a nível teórico, ideológico e metodológico em termos de uma rutura com os dogmas, novas bases doutrinais e uma renovação da conceção de sujeito. (Martins, 1999; Garcia e Bracho, 2006). Este movimento surgiu das teorias de modernização e dependência – teorias que configuram uma corrente crítica. 

A teoria da modernização sustenta o movimento de desenvolvimento da sociedade suportado na corrente capitalista. Este movimento procurava apoiar o processo de desenvolvimento das sociedades subdesenvolvidas para desenvolvidas. Esta teoria integrava as variáveis – Sociais, económicas, mediação e desenvolvimento. Esta teoria sustentada no Capitalismo defende um papel do Estado relevante na sociedade, reclamando uma mudança de mentalidades. 

A teoria da dependência, contrapondo-se á teoria da modernização baseada no princípio histórico-metodológico, põe a ênfase na dimensão histórico estrutural da situação de subdesenvolvimento e procura demonstrar o surgimento desta situação assim como a sua reprodução à dimensão do desenvolvimento Capitalista. 

Neste período o objeto do Serviço Social ganha novo aprofundamento, Conceção do Homem numa dimensão bio-psico-social integral. O Serviço social pretende conhecer e abordar o Homem por meio das suas relações sociais, pela sua pertença á classe social, os papeis que o indivíduo tem na sociedade (aspetos parciais da dimensão humana integral da pessoa). Uma intervenção centrada na relação personalidade/ meio /recursos passa para uma relação centrada nas relações sociais de classe e de grupos. Assim, o objeto do Serviço Social, identifica-se com a preocupação com o desenvolvimento teórico do Serviço Social em simultâneo com a preocupação da sua dimensão crítica e política. Busca novos paradigmas da compreensão da sociedade, da sua estruturação e mudança. Boris Lima e Maria Angélica Gallardo (1974) Procuram vincular o Serviço Social a um processo de planeamento, diagnóstico, programação, execução e avaliação. 

O Serviço Social assume nesta fase uma dimensão estruturalista, identificada com a perspetiva intervencionista. 

3º período : 1980 

Nos anos 80, no pós reconceituação do Serviço Social, as correntes críticas ganham importância nas preposições e intervenções desenvolvidas pelo Serviço Social. Uma parte do Serviço Social crítico, veio a assumir uma identidade completa com os movimentos sociais (ex. Português criação das IPSS). Tendo como objeto não mudar o comportamento ou o meio, mas contribuir para a organização e mobilização social dos cidadãos, das instituições e das comunidades na luta contra o capitalismo. Ganham força, no domínio do Serviço Social as teorias da Escolha Racional ou também designadas de Teoria da Acção desenvolvidas por Pareto, Parsons (1937), Weber, Lindenberg (1992) e as teorias da Acção e da Praxis, de Hobbes, Locke, Kant, Weber (1921), Cohen (1981) Dewey, Mead (1934), Anthony Giddens (1984). 

Neste período o Serviço Social tem por base o paradigma das inter-relações. 

4º período : 1990 

Neste período o Serviço Social insere-se num novo contexto social e político, no quadro do espaço europeu e de maior internacionalização ao nível social, económico, do emprego e cultura. Assistimos ao surgimento de novas questões sociais emergentes num princípio social de multiculturalidade, nomeadamente: questões do género; etnicidade, desviância, minorias, orientação sexual e não discriminação. O objeto do Serviço Social centra-se nas relações de cooperação/ conflito do Estado com a Sociedade. Não só se alteram as relações Estado/Sociedade como as relações entre os próprios grupos da sociedade, surgindo as IPSSs e as ONGs enquanto instituições de promoção e defesa dos direitos humanos. Esta alteração de paradigma social obriga a um repensar da relação entre sociedade, cultura, economia e subjetividade, implicando uma construção de uma nova identidade individual e coletiva na defesa dos direitos humanos e na busca de autonomia e participação social. 

5º período : 2000 

Na atualidade o Serviço Social inscreve-se num contexto económico e politico de grandes mudanças marcado por um contexto neoliberal ao nível de política económica, associado a politicas de privatização e terciarização com profundas consequências na vida dos cidadãos, nas relações de trabalho e emprego e na gestão social da vida quotidiana. Presentemente ganha importância o paradigma do partenariado a dimensão das Redes no processo de intervenção social de forma geral e em particular do Serviço Social. Estamos perante um novo desafio sobre a construção do objeto de intervenção do Serviço Social, havendo necessidade de repensarmos o objeto de intervenção do Serviço Social, ao nível do: 
  • Emprego;
  • da responsabilidade social; 
  • da família; 
  • da comunidade; 
  • e das novas politicas sociais. 
FERREIRA, Jorge Manuel Leitão - Serviço Social e modelos de bem-estar para a infância: modus operandi do assistente social na promoção da protecção à criança e à família [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL, 2009. Tese de doutoramento. Disponível em www:<http://hdl.handle.net/10071/3590>. ISBN 978-989-732-144-3.