Dar o peixe, ensinar a pescar ou remover os muros?

Família

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"A era industrial transportou consigo uma crise na família patriarcal com a mobilidade massiva para os centros urbanos criando uma nova conceção de casal e da própria vida familiar. A sociedade pós-moderna caracteriza-se por modificações nos modelos familiares vigentes, em matéria da natureza dos vínculos matrimoniais e em consequência pelo divórcio e pela reconstrução familiar. Assume um modelo mais de consumos e menos de produção, o que produz dificuldades no modelo de família nuclear (produtivo) em prol do modelo de família reconstituída (consumista). Atualmente é fácil encontrar as famílias ao fim-de-semana mais nas superfícies comerciais do que em parques ou espaços verdes.

É também na era da pós-modernidade que surgem as famílias multiproblemáticas, muito expostas pelos problemas da toxicodependência, violência doméstica e problemas de saúde mental. Estes tipos de famílias identificam-se com elevados níveis de consumo no que respeita aos serviços sociais. São famílias que muitas vezes começam por falar do seu problema ao médico de família, a seguir ao assistente social da unidade de saúde, deste passe para o Serviço Social da Segurança Social, deste para a CPCJ, deste ao serviço do Ministério Público, passando por um conjunto de serviços sociais da comunidade local, nomeadamente instituições de solidariedade social que não são aqui referidos.

A família na contemporaneidade, tem-se apresentado permeável às mudanças da sociedade e modos de vida, como refere, Sofia Aboim (2005), “ (…). Maioritária do casamento religioso, a um ritmo conjugal, têm vindo a aumentar, a um ritmo progressivo e marcado, os casamentos civis e a coabitação como experiência prévia ao casamento, tendências (…), sinalizadoras de processos de modernização de uma vida familiar que se foi tornando cada vez mais privada e mais adaptada às exigências dos ritmos individuais (in, Karin Wall, 2005:85) ”. Neste contexto é importante segundo Karin Wall, distinguir a família constituída por laços de consanguinidade e de aliança, o grupo doméstico definido pela co-residência e pela partilha de um espaço de vida e a rede social primária definida pelas relações de apoio e pelos contactos de proximidade (Karin Wall, 2005).

A família é uma dimensão importante no estudo e análise no problema da criança / jovem, tendo em conta a sua formação, estrutura, condições de vida, necessidades, relações entre e inter-familiares, fatores culturais, bem como os vínculos relacionais e os afetos estabelecidos. Não basta retirar a criança, institucionalizá-la ou atribuir o rendimento social de inserção à família.

O relatório da subcomissão parlamentar para a Igualdade de Oportunidades sobre a avaliação dos sistemas de acolhimento, de proteção e tutelares de crianças e jovens (2006), conclui existir em Portugal uma: excessiva institucionalização de crianças; falta de formação especializada e de meios dos profissionais e ausência de políticas de apoio às famílias. Questões que no domínio do Serviço Social nos devem questionar sobre o que pretendemos no futuro em matéria das novas famílias, se o percurso destas crianças é passarem de instituição para instituição. As políticas de família constitui na atualidade uma das questões mais pertinentes no debate social contemporâneo. Não basta políticas de “manutenção” de pobreza das famílias (ou sejam políticas protetoras), são necessárias políticas que reforcem as competências das famílias e as valorizem como pessoas e cidadãos comuns de qualquer sociedade.

A diversidade de famílias e formas de agregados familiares tornou-se um traço comum na sociedade atual. Mas não foi apenas a família e a composição do agregado familiar que sofreram alterações, estas verificam-se também na mudança nas expectativas criadas pelas pessoas nas suas relações com os outros (ex: o acesso fácil a bens de luxo e por consequência a novos endividamentos). Assiste-se hoje, segundo Kellerhals “ao primado do indivíduo sobre a família, primado do eu sobre o nós, o qual significa que é em função do bem-estar de cada um dos conjugues que se definem regras e formas de regulação nas interações conjugais (Torres, 2001:126) ”. Todas estas transformações alteram o ciclo de vida familiar, o que nos leva a refletir sobre os impactos da globalização na organização familiar.
Atualmente assistimos à evolução do individualismo dos sujeitos (chamados de cidadãos), o que dificulta o espírito coletivo, de grupo e de família. Hoje a família já não é vista como fonte de rendimentos, não é o casamento que determina a constituição de uma família, a desigualdade entre os sexos.

Segundo a diretiva das Nações Unidas (ONU: 1993) as funções da família são:
  • Económica, Social e Emocional, é uma função reforçada pelo casamento, que estabelece os papéis dos indivíduos enquanto casal e atribui-lhes a responsabilidade de assegurarem os seus laços emocionais, sociais e económicos, entre eles e os restantes membros da família, de modo a estabelecer um bom relacionamento familiar; 
  • Biológica, a função de assegurar a reprodução da família através da procriação;
  • Aquisição de Direitos e Deveres baseia-se no registo de nascimento dos filhos, atribuição à Criança de um nome de família e uma nacionalidade, concedendo-lhe assim o direito à cidadania e ao apoio financeiro por parte dos pais;
  • Garantia das necessidades básicas, família como suporte social e económico dos membros não autónomos;
  • Educativa e de socialização, consiste na transmissão de valores sociais e culturais, bem como de saberes e conhecimentos indispensáveis para o desenvolvimento e para a vida em sociedade;
  • Função de proteção, psicológica, física, sexual e social face à violência no contexto intra e extra-familiar.
A família contemporânea insere-se no quadro da nova sociedade, que impõe necessariamente traçar uma nova tipologia de família, não apenas consentânea com a pós-modernidade, mas também com as ideias de coerência filosófica e ética do ser humano."


FERREIRA, Jorge Manuel Leitão - Serviço Social e modelos de bem-estar para a infância: modus operandi do assistente social na promoção da protecção à criança e à família [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL, 2009. Tese de doutoramento. Disponível em www:<http://hdl.handle.net/10071/3590>. ISBN 978-989-732-144-3.

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