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A Identidade
Fatma's Social
Segundo Hall
(1998) a questão da identidade
revestiu-se de maior relevância, numa conjuntura onde as identidades não se
referem a grupos fechados, ou apenas a identidades étnicas. Num mundo instável
- numa sociedade de risco (Beck, 2003),
numa modernidade líquida (Bauman, 2001) –
as identidades tornam-se instáveis. Não são determinadas por grupos específicos
e perdem o foco de estabilidade do mundo social; tornam-se híbridas e
deslocadas de um vínculo local. Significa que se transformam numa tarefa
individual, num processo de construção incessante, e sem a atribuição colectiva
que implicava conformidade com as normas sociais. (Mocellim, 2008)
Hall (1998) referiu ainda
que “as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social,
estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo
moderno, até aqui visto como sujeito unificado.” Afirmou também que as mudanças
estruturais que tiveram início nas sociedades modernas no fim do século XX,
transformam com elas a ideia que temos de sujeito, e a nossa forma de “exercer”
uma identidade. (p. 7)
São distinguidas três concepções
diferentes de identidade, equivalentes períodos históricos, imagens de um
momento social e formas de pensar específicos da sua época:
a)
Sujeito do Iluminismo - ser humano autónomo, único, centrado, unificado e
coerente. Todos os homens eram dotados de razão e agiam racionalmente, as
identidades eram coerentemente e racionalmente construídas. Uma visão muito
individualista do sujeito e da sua identidade.
b)
Sujeito Sociológico – nascido das mudanças complexas nas sociedades
modernas. Uma visão surgida no fim do século XIX e seriamente aceite durante
meados do século XX. O sujeito não era autónomo como imaginado, não podia ser
auto-suficiente, e a sua identidade era construída num diálogo incessante com
as pessoas da sociedade em que vivia. O sujeito tinha a sua individualidade, um
“eu interior”, só que formado, e transformado, de acordo com as experiências do
indivíduo no meio social. Uma noção de identidade que dependia de uma estrutura
social, e não podia ser constituída independentemente dela.
c)
Sujeito Pós-Moderno - desde o fim
do século XX, argumenta-se que as noções de auto-identidade não correspondem já
à realidade. Hall (1998) afirmou que: “O sujeito, previamente vivido como tendo
uma identidade unificada e estável, está a fragmentar-se; composto não de uma
única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias e não
resolvidas. As identidades, que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que
asseguravam a nossa conformidade subjectiva com as “necessidades” objectivas da
cultura, estão em colapso, como resultado de mudanças estruturais e
institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos
projectamos nas nossas identidades culturais, tornou-se provisório, variável e
problemático.” (Mocellim, 2008, p. 11-12)
A interdependência global colapsou as
identidades tradicionais, ligadas ao local, e produziu uma diversidade cada vez
maior de estilos e identidades. Se por um lado, o acesso a informações provenientes
de muitos lugares do mundo hibridiza, por outro também homogeneíza, num duplo
processo. Os locais misturam-se e as identidades que antes eram locais podem
ser encontradas agora em qualquer local. (Hall, 1998).
“O mundo construído de objectos duráveis foi
substituído pelo de produtos disponíveis projectados para imediata
obsolescência. Num mundo como este, as identidades podem ser adoptadas e
descartadas como uma troca de roupa. O horror da nova situação é que todo o diligente
trabalho de construção pode mostrar-se inútil; e o fascínio da nova situação,
por outro lado, está no facto de não estar comprometida por experiências
passadas, de nunca ser irrevogavelmente anulada, “mantendo sempre as opções
abertas. (….) E deste modo a dificuldade já não é descobrir, inventar,
construir, convocar (ou mesmo comprar) uma identidade, mas como impedi-la de
ser demasiadamente firme e aderir depressa demais ao corpo. (...) O eixo da
estratégia de vida pós-moderna não é fazer a identidade deter-se – mas evitar
que se fixe. (Bauman, 1998, p. 112-114)
Em Bauman (2003) a identidade aparece como
substituta da comunidade, nas normas, regras, padrões de conduta, e conforta,
pela falta de conforto de um mundo sem padrões sólidos, onde a identificação se
torna esquiva e frágil.
“Identidade significa
aparecer: ser diferente e, por essa diferença, singular – e assim a procura da
identidade não pode deixar de dividir e separar. No entanto a vulnerabilidade
das identidades individuais e a precariedade da solitária construção da
identidade leva os construtores da identidade a procurar cabides em que possam,
em conjunto, pendurar os seus medos e ansiedades individualmente experimentados
e depois disso, realizar rituais de exorcismo na companhia de outros indivíduos
também assustados e ansiosos.” (Bauman, 2003, p.21)
A construção da
identidade não tem fim ou destino e os objectivos transformam-se mesmo antes de
serem alcançados; é sempre um projecto incompleto. (Mocellim, 2008)
By Fatma
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