Dar o peixe, ensinar a pescar ou remover os muros?

Estigma

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Goffman, E. (1986). Stigma: notes on the management of spoiled identity. New York: Touchstone.


Resumo:


 O termo estigma foi concebido pelos gregos em referência a sinais corporais, nos quais se reflectia algo de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os ostentava. Na era cristã o termo estigma ganhou metáforas distintas: sinais corporais de graça divina ou distúrbios físicos.

Em contacto com outras pessoas, estabelecemos preconcepções e enquadramos cada pessoa numa categoria, a partir dos seus atributos ou de um status social. Produzimo-lo quase que automática e inconscientemente, idealizando as pessoas a partir de requisitos afectivos, imputando aos indivíduos expectativas que por vezes não os caracterizam, criando uma identidade social virtual; a categoria e os atributos que o indivíduo na realidade prova possuir é a sua identidade social real.

Ao catalogar um sujeito deixamos de considerá-lo comum e total, reduzindo-o ao seu estigma. Um estigma não é em si honroso nem desonroso, é um tipo especial de relação entre atributo e estereótipo. Existem múltiplas formas de um estigmatizado possuir uma característica diferente da que havíamos previsto, ou física ou na conduta. Um estigmatizado pode passar por situações de desacreditado, desacreditável, ou por ambas.

Actualmente, os estigmatizados confundem muitas vezes os sentimentos com a sensação de serem “normais”, mas é fatal que percebam que participam de uma parte que ficou abaixo das expectativas reais, do que necessitariam ser. Na antiguidade eram excluídos do convívio social, hoje vivem próximos aos “normais” e as duas partes, estigmatizados e “normais”, deparam-se com dificuldades de relacionamento; a aceitação de ambos gera sentimentos conflituosos.

Frequentemente os estigmatizados procuram aceitação através dos mais diversos mecanismos: quando o estigma está no físico, tentam corrigi-lo através de intervenções cirúrgicas, mas essa transformação pode trazer problemas a nível psíquico, já que essa mudança também acarreta transformações no ego. Outra predisposição dos estigmatizados alude a vitimização: são alvo de charlatões, que se aproveitam da deficiência para apresentar maneiras de a corrigir. Outros estigmatizados indagam corrigir a sua condição de maneira indirecta, tentando superar o estigma exaltando algum outro atributo.

 Paralelamente, alguns estigmatizados utilizam o seu estigma para obter ganhos secundários, uma desculpa pelo fracasso a que chegaram: utilizando o estigma como protecção social, atribuindo-lhe uma “graça” secreta, ou utilizando-se dele para reafirmar as limitações dos “normais”.

 Em situações sociais o estigmatizado é geralmente evitado, a maioria isola-se, assim os sentimentos de desconfiança, depressão e hostilidade são exteriorizados. Em contacto os “normais”, o estigmatizado defrontará directamente as causas e efeitos do estigma, pois não sabe em que categoria será colocado pelos normais, o que gera uma sensação de não saber o que pensam sobre ele; pode sentir-se em exibição, o que de facto acontece. Existe uma curiosidade mórbida a respeito da sua condição, assim é comum numa situação social mista que os indivíduos estigmatizados actuem de forma defensiva, algumas vezes num comportamento retraído, noutras num comportamento agressivo.

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