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A Velhice e o Envelhecimento


O envelhecimento pode ser estudado de diferentes perspectivas. Na mais comum, em termos biológicos, define-se como o processo de deterioração endógena e irreversível das capacidades funcionais do organismo e, por enquanto, é inevitável. Os órgãos vão perdendo as suas capacidades de forma diferente: os tecidos elásticos (do aparelho circulatório, respiratório ou a pele) deterioram-se mais rapidamente que os tecidos nervosos, por exemplo. A evolução dita “normal” pode ser acelerada por factores como o stress, traumatismos ou doenças, passando a designar-se por envelhecimento secundário ou patológico (Sousa, 2004).

Definir o envelhecimento não é tarefa fácil. Bond e Coleman (1994) referem três termos para cada uma das vertentes de abordagem: senescência para a biológica, eldering para a social e geronting para a psicológica. A primeira explica o processo como forma de aumentar a probabilidade de morrer com a idade, a segunda como a aquisição de papéis e comportamentos sociais apropriados a grupos mais velhos e a terceira como a auto-regulação exercida pelo próprio ao longo da sua vida.

Mesmo sendo inerente à espécie, as particularidades pessoais do envelhecimento tornam-no individual. De acordo com a teoria de Baltes, um dos estudiosos deste tema (citado por Fontaine, 2000), existem três grandes categorias de factores que o influenciam:
• Ligados ao grupo etário - a idade cronológica (factores biológicos) e os acontecimentos de vida dela dependentes (a escolarização, a reforma, o serviço militar obrigatório ou as fases de maturação e de senescência biofisiológica) são determinantes e minimamente previsíveis, reflectindo a acção do meio que é comum a todos os indivíduos e não controlável por ele;
• Ligados ao período histórico - a vivência de guerras, a obrigatoriedade e o tipo de ensino, ou as revoluções num país, condicionam também este processo, mesmo que independentes dele. É o chamado “efeito de coorte”;
• Ligados à história pessoal ou não normativos- as decisões individuais (o casamento, constituição de família, tipo de profissão ou emprego, local de residência), ou os acontecimentos inesperados da sua vida (a viuvez, o desemprego, a solidão, a perda de filhos) são específicos e únicos a cada indivíduo.

Da interacção dos factores colectivos (de grupo etário e período histórico) e individuais (história pessoal), surge um quadro de envelhecimento particular, ajustado de acordo com a vivência pessoal. A força que cada grupo de factores exerce varia ao longo da vida: na infância e velhice dominam as influências do grupo etário, as históricas atingem o seu auge durante a adolescência e juventude, e as não normativas têm carácter progressivo.

É frequente a afinidade entre indivíduos da mesma faixa etária, com origens semelhantes. Encontram--se facilmente, nos bairros mais antigos das velhas cidades, comunidades organizadas de pessoas oriundas da mesma zona geográfica, que evoluem com as ramificações familiares, perdas e aquisições de pessoas, meios e organizações. O seu carácter dinâmico leva a um estreitamento de laços e consequente formação de pequenos núcleos. Com um contexto vivencial semelhante, está facilitada ao sénior a partilha de projectos e actividades, angústias e receios, obtendo e concedendo apoio aos seus pares. A articulação destes grupos com a sociedade, o seu nível interventivo e as exigências realizadas vão determinar as respostas dos restantes grupos.


Aceda AQUI ao Manual na íntegra

A solidão, a sociedade e os idosos



A individualização das sociedades, consequente das transformações sociais nas sociedades modernas subsidia contextos de solidão, por via de vidas e quotidianos assinalados pela superficialidade, aparência, e indiferença. “A solidão não é um fenómeno abstrato, nem vivido de forma única”; traja vivências reais e plurais. Não é uma realidade individual; o medo da solidão é um medo social. O isolamento social funciona em sociedade como punição, pois a interpretação da solidão tem cariz negativo, ainda que a vida solitária seja uma escolha. Pais (2006) identificou variados tipos de solidão, onde um dos rasgos comuns é o facto de a solidão poder ser vivida no meio de outros irrelevantes, ou num centro comercial, num lar de idosos, numa taberna ou mesmo em família; “estar só”, mesmo que acompanhado, não é viver em solidão. A solidão depende do tipo de relacionamento com o outro e com o estado interior do indivíduo face ao mundo social. (Salvado)

O isolamento e o relacionamento são duas dimensões descodificadoras da distinção entre “viver a solidão” ou “viver na solidão”. “A solidão não se vive nem em estado puro, nem absoluto” (Pais, 2006, citado por Salvado). Estar só é diferente de solidão. Solidão remete para “um estado (interior) de subjetividade”, sentimento de quem não pode assumir uma autonomia de vida, nem ajudas que preencham esse desígnio. Estar só, alude a uma situação (exterior) visível e objetiva; por vezes um “isolamento desejado”. (Pais, 2006, citado por Dias, p. 282) 

A solidão como vivência subjetiva e psicologicamente perturbadora, determina também o estado de saúde do idoso, correlacionando a solidão e a saúde. A solidão é um estado de sentimento interno causado pela ausência de algo ou alguém, motivando uma sensação de abandono pela sociedade (Squire, 2005, citada por Fernandes, 2012). 

A sociedade e os idosos 


O Estado-providência e a sociedade civil na prática da assistência pública, assistindo os carenciados e retificando privações nas instituições tradicionais, não são suficientes. Numa lógica institucional, o Estado-providência aponta para o equilíbrio da sociedade em termos sociais; contudo, os equipamentos sociais de hoje visam maioritariamente os idosos mais carenciados, física ou economicamente. Na desordem entre assistencial e social, procura-se a resposta às questões da maioria dos idosos. As iniciativas empreendidas pela sociedade civil, continuam contudo a não ser apreciadas como ação social; universidades de terceira idade, grupos corais, ranchos folclóricos e encontros intergeracionais. (Rocha, 2012) 

O conceito de políticas sociais de velhice expõe um “conjunto das intervenções públicas, ou ações coletivas, que estruturam, de forma explícita ou implícita, as relações entre velhice e a sociedade” (Fernandes, 1999, citada por Santos, 2012, p. 4). Em Portugal replica-se o modelo do sul da europa, onde a família providencia cuidados de proteção social aos seus membros, em resposta a um Estado Providência tardio e mercado débil; com expediente na solidariedade primária familiar (Santos, 2012). E quando não existe família?

 “Qualidade de vida está, assim, diretamente relacionada com a perceção que cada um tem de si e dos outros, do mundo que o rodeia e pode ser avaliada mediante critérios apropriados, tais como, a educação, a formação base, a atividade profissional, as competências adquiridas, a resiliência pessoal, o otimismo, as necessidades pessoais e a saúde”. (Leal, 2008, citado por Fernandes, 2012, p.30)

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