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Ander-Egg - Intervenção comunitária


Comunidade refere-se a um agrupamento de pessoas que habitam num espaço geográfico delimitado, onde existem objetivos comuns de resolução das problemáticas e satisfação das necessidades; faz-se de forma organizada. O desenvolvimento de uma comunidade processa-se através dos programas e atividades nela realizadas, envolvendo a participação dos interessados.

A intervenção no desenvolvimento comunitário, operacionaliza-se atendendo às especificidades de cada comunidade sujeita a intervenção e visa atender a necessidades e problemas, objetivando o desenvolvimento e melhoria na qualidade de vida. (Ander-Egg, 2007, p. 19)

Diferentes alcances do conceito comunidade: 

O termo comunidade pode designar um grupo de pessoas unidas por um propósito comum ou a viver juntas, um bairro, aldeia ou município, comarca, província, nação, continente (a comunidade a nível micro, meso, macro). No passado aludia basicamente a uma relação particular entre território e coletividade. (idem, p. 19) 

As realidades de cada comunidade implicam a amplitude espacial (micro, meso e macro; pode pensar-se comunidade para designar um espaço ou território delimitado, utilizando o termo para designar as pessoas e relações que estabelecem, constituindo uma entidade identificável e individualizável por limites geográficos e precisos. 

Comunidade é também um conjunto de pessoas que partilham uma herança social comum, tradições, costumes, língua ou etnia, adicionando á noção de comunidade o reconhecimento de uma história identidade e destino comum (idem, p.20)

Numa dimensão psicológica consideram-se aspetos substanciais como o sentimento ou consciência de semelhança e pertença, onde os indivíduos se percebem como parte de uma rede de relações e laços comuns que se identificam psicologicamente com a comunidade da qual fazem parte; por vezes o conceito alude às relações sociais que existem entre um conjunto de pessoas que partilham interesses comuns e ligadas por aspirações, valores e objetivos comuns. 

Aplica-se ainda o termo em referência, a uma entidade funcional e autónoma, ainda que inserida noutras unidades mais amplas. A funcionalidade social de uma comunidade expressa-se através de:
• Atividades económicas de produção, distribuição e consumo; 
• Disponibilização de determinados recursos, bens e serviços; 
• Instituições, papéis e classes sociais estabelecidos no seu interior (idem, p.20) 

Explica-se assim o equívoco a que o termo induz e por outro lado clarifica-se como conceito utilizado de forma analógica e elástica, obtém todos os significados; é primordial delimitar o alcance dado no campo dos métodos de intervenção social, ainda que depende dos limites atribuídos pela sociologia, antropologia e psicologia social (idem, p. 21)

Elementos comuns nas diferentes utilizações do conceito:

• Supõe como elemento mais importante um conjunto de pessoas que interagem entre si, têm relações e laços comuns, partilham determinados interesses e participam nalgum objetivo ou função comum. Por algum desses elementos, esse conjunto de pessoas é identificável e assim podemos designá-las “comunidade de…” segundo o caso. (idem, idem) 
• Implica também um espaço ou âmbito onde se dá a existência da comunidade; selecionando o que nos interessa no vocábulo em função do desenvolvimento da comunidade enquanto método de intervenção; obtemos como elemento base o território. Acrescido ao conjunto de pessoas e território, existe o sentido de pertença a “algo” de que todos fazem parte. Frequentemente esse conjunto de pessoas que forma uma comunidade tem uma herança social partilhada: costumes, valores. 
• Funcionalidade, porque as pessoas estão juntas, relacionam-se e interagem mais intensamente que noutro contexto. Esta funcionalidade exige disponibilidade de recursos, bens, serviços e a realização de atividades por organizações e instituições, num conjunto de relações sociais onde existe diversidade de papéis, distintas posições e classes sociais. (idem, idem) 

Assim pode dizer-se que os elementos estruturais mais importantes são: 
• O território (localização geográfica) 
• A população (que habita esse território) 
• Os recursos/serviços (perfil da atividade produtiva e de serviços disponíveis) 
• Formas de interação, relações e laços comuns que oferecem uma identificação coletiva (sentimento     ou consciência de pertença). (idem, p. 22)

O que se entende por comunidade:

• Agrupamento ou conjunto de pessoas vinculadas entre si 
• Que habitam um espaço geográfico delimitado ou delimitável (componente territorial); não se pode definir um âmbito comunitário a “régua e esquadro”, mas delimitado pelas pessoas que o integram, seja por limites político administrativos, históricos ou culturais. Nalguns casos demarcações municipais, noutros com limites de território e habitat facilmente reconhecíveis e percebidos como uma unidade social. Esta dimensão é elástica, pode aludir a um grupo de colonos, habitantes de um bairro, aldeia, etc. Noutras circunstâncias designam-se unidades sociais mais amplas como a comunidade nacional latino-americana, europeia ou internacional. O conceito utilizado com esse alcance não tem a ver senão em semelhança com o mais delimitado no espaço, a utilizar ao expor os problemas da comunidade (idem, p. 22-23) 

As relações sociais de uma comunidade ou coletividade não estão confinadas a um espaço físico delimitado e delimitável. Os laços e interações dos membros de uma comunidade transcendem os limites geográficos. Assim, o termo “comunidade” inclui uma perspetiva de análise das redes. (idem, p. 23) 

• Que operam em redes relativamente estáveis dentro da comunidade e seu contexto; a noção de comunidade tem vindo a ser reconcetualizada desde a antropologia e sociologia, dando mais importância e significado ao facto das comunidades constituírem sistemas de redes sociais. Nesta perspetiva as comunidades consideram-se não tanto pela sua dimensão territorial, mas como um conjunto de relações nas quais o indivíduo interage com outros na sua vida quotidiana. Estas relações configuram-se em torno de cada indivíduo, de diversas características, conteúdos e modus operandi. Nalguns casos possuem carácter utilitário ou pragmático (tarefas ou atividades desportivas) e noutros carácter emocional (grupos de ajuda mútua ou apoio social. (idem, idem) 

No seio de cada comunidade podem existir interconexões entre diferentes redes ou mais restritivamente, entre pessoas pertencentes a diferentes redes. Também pode verificar-se que nalgumas redes não existe nenhuma relação e operem e atuem de forma paralela no interior da mesma. Quando há relações entre redes estas podem ser de cooperação, conflito ou neutras. Mais, numa comunidade podem existir pessoas ou redes vinculadas a outras que transcendem o âmbito territorial comunitário (idem, idem). Há que ter em conta que a maioria das pessoas está imersa em várias redes simultaneamente, ainda que com um grau variado de pertença a cada uma delas. (idem, p. 24) 

• Os membros têm consciência de pertença ou identificação com algum símbolo local. Para fazer parte de uma comunidade há que ter consciência de pertencer a ela ou sentir-se identificado com algum símbolo local (nome da comunidade, aldeia, bairro ou vizinhança). 

Este sentimento de pertença à comunidade em que se vive é uma forma de riqueza social (capital social). Isto cria um cultivo muito favorável ao assumir a “sua comunidade” como algo próprio e para que exista maior disposição a resolver os problemas coletivos. É uma riqueza intangível que produz consequências práticas altamente positivas para atacar certos problemas que atacam o bairro ou cidade (idem, idem) 

• Interação entre si mais intensa que noutros contextos - Os membros de uma comunidade (qualquer a amplitude com que se utilize o termo) têm maior ligação entre si e consequentemente maior interação. Os membros de um bairro interagem mais intensamente entre si do que com outros bairros mas os membros de um e outro fazem-no mais intensamente por pertencer à mesma cidade ou povoação, do que os que vivem noutra cidade. 
• No propósito de alcançar determinados objetivos, satisfazer necessidades, resolver problemas ou desempenhar funções sociais relevantes a nível local - Estes propósitos podem concretizar-se e realizar-se no âmbito das atividades económicas (produção, distribuição e consumo); na utilização de equipamentos e serviços comuns partilhados ou a partilhar pelos membros; na participação social em diferentes organizações e no apoio mútuo, seja através de mecanismos institucionais (governamentais ou não) ou através de grupos primários (família, amigos, vizinhos). (idem, idem) 
• A amplitude e flexibilidade do conceito transporta à imprecisão; há que precisar a que comunidade se faz referência. Se não o fazemos não se identifica nem o sujeito nem o objeto de desenvolvimento comunitário. (idem, p. 25) 

Enquanto metodologia de intervenção social, o conceito de comunidade aplica-se com dois sentidos ou alcances distintos, mas não contrapostos entre si. (idem, idem) 

• grupos que compartilham um interesse ou função em comum 
• população de determinada zona geográfica (Murray Ross citado por Ander-Egg, 2007, p.25-26) (Ander-Egg, 2007) 

Sob o ponto de vista operativo no primeiro caso alude a uma área de actuação (desenvolvimento de comunidades rurais, urbanas, etc.) por outro faz-se referência a um sector de intervenção organização de uma cooperativa, projectos de ajuda mútua). Na prática podem cruzar-se ambos os alcances do termo com a realização dentro de uma área de actividades de alcance territorial ou outros de tipo sectorial (idem, p. 26) 

Uma perspetiva diferente para definir o conceito de comunidade

O antropólogo espanhol Josep Canals sugeriu uma nova perspetiva para definir o conceito de comunidade a partir do conceito de rede social capaz de estender-se “para além dos grupos permitindo descrever interações sociais complexas que incluem no emaranhado grupos e outros conjuntos”. Para Canals as redes sociais ou pessoais podem ter múltiplas interconexões ou nenhuma; no primeiro caso desenham uma rede que pode ultrapassar os limites territoriais do que denominamos comunidade. 
  •  As redes ultrapassam os limites territoriais do que denominamos comunidade. 
  • As interações mais densas e com maior conteúdo emocional não correspondem necessariamente aos limites da comunidade 
  • Redes sociais e comunidade raramente correspondem 
  • Indivíduos muito próximos no espaço podem não ter nenhum ponto de contacto entre as suas redes pessoais (idem, p .26-27) 
A necessidade de reformular o conceito de comunidade não é uma questão formal mas um requisito de organização do pensamento. “O conceito de rede resulta uma alternativa vantajosa ante a imprecisão e conotações de comunidade”. (idem, p. 27) 

Noção de desenvolvimento

A origem do interesse pelo desenvolvimento nos países capitalistas associa-se às ideias de John M. Keynes relativas à regulação de alguns acontecimentos económicos (revolução industrial) para evitar ou reduzir o efeito perturbador das crises recorrentes do sistema de produção capitalista (idem, idem). Muitos debates têm sido realizados sobre desenvolvimento e subdesenvolvimento, mas não basta discutir e estudar os problemas e necessidades das pessoas, há que comprometer-se com ações e atividades concretas que conduzam à solução desse problemas e á satisfação dessas necessidades. (idem, p.28) 

Conceitos similares utilizados em diferentes momentos históricos

Antes que a problemática se formulasse foi exposta sob diversas formas a considerar equivalentes: riqueza, evolução, progresso, crescimento, desenvolvimento económico, desenvolvimento. (de LA Peña). Depois outras precisões: desenvolvimento integral e harmónico, unificado e finalmente o atual desenvolvimento sustentável, dando enfase a uma conceção de desenvolvimento orientado segundo as necessidades, ecologicamente solvente, com distribuição mais equitativa dos recursos, pessoas mais saudáveis, instruídas e capacitadas, governos descentralizados orientados para a promoção da participação; ideias centrais da nova conceção do desenvolvimento que superou os enfoques dos especialistas “aprisionados pela teoria do possuir e da extensão da possessão quando na realidade teria de subordinar-se-lho ao “ser mais” e elabora uma teoria e praxis do “ser mais” e elaborar uma teoria que compreendesse a utilização civilizacional do possuir. (idem, p. 29) 

Quando se foi partilhando a ideia do desenvolvimento da comunidade, o conceito vigente tinha um significado muito mais estreito e forte tonalidade economicista. Ainda hoje se fala muito pouco de desenvolvimento, a concepção actual está perto do estilo e espírito que sempre predominou no desenvolvimento da comunidade (idem, idem)

Notas conclusivas

O desenvolvimento local envolve as dimensões de autonomia, cidadania e participação dos atores locais para combater as desigualdades locais e procurar soluções inovadoras. 

“O Desenvolvimento Comunitário como um “processo, método, programa, instituição, e/ou movimento que: 
• envolve toda a base da comunidade na solução dos seus próprios problemas; 
• promove o ensino e insiste no uso de processos democráticos para a (re)solução de problemas comum à comunidade; 
• estimula e facilita a transferência de tecnologias para que a comunidade possa solucionar, de forma efectiva, os seus problemas comuns.” (Koehnen) 

“Unir esforços para resolver, de forma democrática e científica, os problemas comuns da comunidade apresenta-se como um dos elementos essenciais ao desenvolvimento comunitário” (Holdcroft, 1978, citado por Koehnen)


Ander-Egg, E.(2007). Acción municipal, desarollo local y trabajo comunitário. Universidad Bolivariana de Venezuela.

Outras referências: 

Holdcroft, L. (1978). The Rise and Fall of Community Development in Developing Countries, 1950-65: A Critical Analysis and an Annotated Bibliography. (M. S. University, Ed.) 
Koehnen, T. (s.d.). Desenvolvimento Local : Qualificação de Capital Socia. (UTAD-DESGCETRAD, Ed.) 
Obtido de https://esa.ipb.pt/imagens/eventos/seminarios/s2007_Koehnen.pdf 



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