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Serviço Social - Utopia ou Realidade?


"...Os assistentes sociais durante o exercício profissional são confrontados com a necessidade de atingir objetivos e metas, fazendo recurso a estratégias metodológicas e intencionalidades teóricas, mas muitas vezes sem equacionar o lugar que a relação com a pessoa utilizadora do serviço pode ocupar nesta intervenção. 

…A relação profissional do assistente social com a pessoa utilizadora do serviço tem sido abordada desde o início do exercício da profissão de assistente social, de uma forma mais ou menos explícita, tal como afirma Hamilton (1941) quando define o Serviço Social como “a arte de ajudar as pessoas a se ajudarem a si mesmas, cooperando com elas a fim de beneficiá-las e, ao mesmo tempo, a sociedade em geral” (Vieira, 1985:71). 

A análise da relação profissional é orientada pelos pressupostos ontológicos, teóricos e metodológicos que a sustentam e que se passam a apresentar: 

a) A Dimensão Ontológica da Relação Profissional

Analisar a dimensão ontológica da relação entre o assistente social e a pessoa utilizadora do serviço engloba a compreensão da natureza da relação, a dinâmica dos elementos em presença no processo de construção da relação e os seus constrangimentos.
A intervenção do assistente social verifica-se em situações de grande vulnerabilidade em que as pessoas sentem como fundamental a confiança, ou seja, a possibilidade de poderem ser aceites, de receberem apoio e terem como interlocutor um profissional que lhes oferece uma relação de ajuda, o que constitui elemento fundamental na motivação da pessoa, que responde com uma perspetiva de colaboração e responsabilidade para com a sua situação. O profissional assume uma atitude de empatia, em que a compreensão da pessoa utilizadora do serviço tal como é sustenta uma relação baseada na verdade, sem criar falsas expectativas ou abarcar objetivos irrealistas. 
A relação constitui-se como um meio para o desenvolvimento da pessoa utilizadora do serviço e através das características dessa mesma relação será possível a pessoa tornar-se mais consciente da sua situação e assumir a responsabilidade do processo de intervenção. O assistente social acredita nas capacidades da pessoa utilizadora do serviço e comunica-lhe essa confiança, numa perspetiva de capacitação, em que a pessoa possa assumir as decisões sobre a sua vida (Robertis, 2003) Esta relação constitui-se como um processo em que o acolhimento do utilizador do serviço assume um papel fundamental, na medida em que possibilita clarificar os procedimentos implicando a pessoa num projeto de trabalho em comum. É importante que a pessoa utilizadora do serviço possa desconstruir ideias preconcebidas acerca do assistente social e do serviço onde ele está inserido. De fato a partir da atitude do assistente social a relação vai sendo construída com base no investimento de ambos, com implicações e resultados na intervenção que se começa a desenhar. Mas torna-se claro que a responsabilidade pela relação é sobretudo do profissional, pelo saber que possui acerca das diferentes abordagens e respostas sociais e pela posição de poder que ocupa na organização. 
Na relação profissional que o assistente social estabelece com o utilizador do serviço surgem elementos constitutivos dessa relação ligados ao profissional, ao utilizador do serviço e à organização, numa referência à abordagem de Payne (2002) que define que o Serviço Social é desenvolvido na dinâmica entre os utilizadores dos serviços, o profissional, a sua formação e a própria organização em que o assistente social está inserido. 

O assistente social constrói essa relação com base nos conhecimentos teóricos e práticos adquiridos na formação académica, mas também as características pessoais e as suas atitudes e comportamentos, a sua trajetória de vida pessoal e profissional que condiciona o modo como se relaciona com os utilizadores do serviço e justifica a necessidade de um conhecimento de si que objetive aquilo que por natureza é subjetivo. O facto de o assistente social ter de compreender e gerir os seus sentimentos assim como a preocupação pelos sentimentos das pessoas utilizadoras dos serviços justifica a necessidade de ser emocionalmente inteligente (Howe, 2008), ajudando o profissional a lidar com situações de grande tensão emocional, compreendendo a sua existência é mais fácil responder de forma adequada, aumentando a qualidade dessa mesma relação. 

Os assistentes sociais na construção da relação valorizam competências ao nível cognitivo, relacional e ético-político. Por um lado destacam a necessidade de conhecimentos teóricos, que operacionalizam na relação com o utilizador do serviço, com a equipa e com as outras entidades, mas igualmente competências relacionais onde se destaca a questão da comunicação. 

O assistente social tem de gerir questões, muitas vezes delicadas, em que há reações emocionais diversas e ressalta a necessidade de uma prática reflexiva, individualmente ou através de um trabalho em equipa. Nestes casos a supervisão ajudará a desenvolver uma relação mais apropriada aos objetivos do trabalho a desenvolver. A organização em que o profissional está inserido é igualmente um elemento constitutivo da relação, que condiciona, positiva ou negativamente a construção da relação. 

A forma como a organização está estruturada, a nível dos procedimentos e dos problemas aos quais dá resposta influencia o modo como o assistente social se pode relacionar com o utilizador do serviço. Os assistentes sociais salientam o grau de formalidade, a dificuldade de concretização da resposta por parte da organização, por razões económicas ou outras, mas também não deixam de salientar a capacidade, por parte do profissional, de encontrar estratégias alternativas, que permitam ultrapassar esses constrangimentos. 

E o assistente social pode e deve encontrar formas de ultrapassar essas limitações em benefício da pessoa utilizadora do serviço, no que a experiência profissional desempenha um papel importante, pois o facto de o assistente social ter já alguma experiência profissional aliado à sua inserção na organização permite estabelecer novas formas de intervir. Para além do assistente social e da organização há que assinalar ainda a pessoa utilizadora do serviço como um terceiro elemento que, através das suas características, da própria experiência com os profissionais e da natureza do problema que enfrentam vai influenciar a natureza da relação que será construída. 

A relação que se estabelece entre o assistente social e a pessoa utilizadora do serviço será sempre uma relação de natureza profissional, em que o ponto de partida são as necessidades da pessoa e as suas expectativas, escutadas pelo profissional e devolvidas à pessoa, permitindo a elaboração diagnóstica e a definição conjunta do trabalho a realizar. Ao risco de manipulação (Rhodes, 1986) os assistentes sociais respondem com reciprocidade, participação e responsabilidade partilhada em que a mudança não poderá ser apenas desejada pelo profissional, mas este, através do conhecimento que dispõe e da sua experiência profissional e pessoal, poje ajudar a pessoa utilizadora do serviço a clarificar a sua situação, refletir, tomando as decisões quanto ao caminho que quer seguir. 

b) A Dimensão teórica da Relação Profissional

Os assistentes sociais assumem a relação com as pessoas utilizadoras dos serviços como uma dimensão da prática profissional, um elemento facilitador da intervenção assim como potenciador da qualidade dessa mesma relação. A relação traduz-se na participação do indivíduo no projeto de intervenção aumentando por isso a eficácia da mesma. A relação vai configurando-se no processo da prática profissional do assistente social, assumindo contornos de acordo com as características do profissional, do utilizador do serviço, da organização em que a prática ocorre, do contexto que a envolve e dependendo também da fase do processo da intervenção. Os assistentes sociais entrevistados valorizam a relação como suporte da intervenção mas também como elo de ligação aos utilizadores dos serviços quando a intervenção sofre algum revés. Pode afirmar-se pelo discurso dos entrevistados que a construção da relação, que se inicia no acolhimento do utilizador do serviço é precursora da intervenção, acompanhando essa mesma intervenção e, em diferentes situações, é a relação que permite fazer a passagem entre ruturas e desequilíbrios dessa mesma intervenção. Num domínio operativo poder-se-á recorrer ao pensamento de Brammer (2003) para ilustrar o lugar da relação, definindo o processo de ajuda por uma fase de construção da relação e uma segunda fase de facilitação da ação. Na primeira são necessárias competências a nível de compreensão e suporte, e na segunda são valorizadas competências de decisão e ação. Para este autor a relação é o meio através do qual o profissional e a pessoa utilizadora do serviço expressam e realizam as suas necessidades, o que faz com que seja fundamental no processo de ajuda. 

A relação profissional que o assistente social estabelece com o utilizador do serviço é concebida como uma relação de ajuda na promoção da autonomia, capacitadora no sentido do empowerment. Se, na prática profissional, os assistentes sociais se tornam aliados das pessoas utilizadoras dos serviços e tentam com eles modificar as condições nefastas e as relações sociais inadequadas entre o contexto social e as populações, assumindo, muitas vezes, a sua defesa, o fim último da intervenção centra-se no exercício pleno da cidadania por parte dos sujeitos, como afirma Adams (2005) “Os assistentes sociais devem estabelecer uma relação com os utilizadores dos serviços para que a intervenção seja produtiva. A relação em Serviço Social é uma relação de ajuda, capacitadora ou de empowerment (2005:15), e nessa medida valorizam a escuta e a empatia do profissional, que lhes permite sentirem-se compreendidos e clarificarem a sua situação, não deixando de apontar a necessidade de uma ajuda prática, operacional em direção às suas necessidades e condições. A relação assenta numa postura colaborativa, na interação entre pessoas que participam simultaneamente num processo interpessoal, distinguindo-se de outras relações com a sua intencionalidade consciente, baseada no conhecimento para alcançar o objetivo (Pearlman, 1980:89). 

A perspetiva que está subjacente ao discurso dos entrevistados é de natureza humanista, em que há uma preocupação pela compreensão da subjetividade do outro, base do diagnóstico permanente e da escuta ativa. O objetivo da intervenção é ajudar as pessoas a atingir a sua autonomia, partindo da interpretação que cada um faz de si mesmo e valorizando essa interpretação e soluções propostas. A intervenção é centrada na pessoa e é através deste processo que o profissional consegue compreender a situação da pessoa utilizadora do serviço, numa intervenção em que se procuram as suas capacidades e potencialidades, para além da situação problema que apresenta. Há uma crença naquilo que são os recursos pessoais de cada um, internos ou externos e ainda aquilo que são as suas potencialidades, centrando-se a metodologia da intervenção no desenvolvimento dessas capacidades, que facilitarão que cada um obtenha o domínio sobre a sua própria vida. Os assistentes sociais conceptualizam a intervenção centrada na solução e nas forças, e não apenas no problema, descobrindo que os indivíduos na sua trajetória já produziram esforços que devem ser valorizados (Saleebey, 2009). 

Os assistentes sociais assumem igualmente o impacto do “eu” na relação, através da influência das suas experiências pessoais, a sua personalidade, o que leva á caracterização da relação entre os assistentes sociais, os utilizadores dos serviços e o contexto como reflexiva, na medida em que cada um afeta o outro (Payne, 2002), ideia que é reforçada por Robertis (2003) quando esta afirma que a construção de uma relação é facilitadora da intervenção e que a relação entre o profissional e a pessoa utilizadora do serviço é o meio mais potente de provocar a mudança, na medida em que “(…) é sempre uma situação interativa na qual as influências e transformações são recíprocas” (Robertis, 2003: 78). Relação Profissional: Utopia ou Realidade? 206 O enquadramento conceptual da relação está sustentado num processo com recurso à perspetiva das forças, definindo a linguagem como o meio através do qual se chega à mudança (Howe, 2009). 

c) Dimensão metodológica da relação profissional 


Os assistentes sociais referem sobretudo o atendimento como o procedimento através do qual se estabelece e aprofunda a relação com a pessoa utilizadora do serviço. É no decurso deste processo de intervenção que se faz o acolhimento da pessoa e se delineia o plano de intervenção que começa a ser co-construído, recorrendo a técnicas como a entrevista e a observação e a visita domiciliária. Importa referir aqui a visita domiciliária, como instrumento privilegiado de aproximação do assistente social com a pessoa utilizadora dos serviços. Ferreira (2011) refere no seu estudo a visita domiciliária como procedimento de trabalho a nível de diagnóstico e do acompanhamento social. Para este autor “a visita domiciliária é definida como uma entrevista efetuada no domicílio do utente que visa aprofundar a compreensão /diagnóstico e o estudo e a observação do ambiente familiar. É um instrumento de trabalho de recolha de informações, que permita uma análise da situação” (Ferreira, 2011:281) 

Desde o início da profissão que a visita domiciliária constitui um importante instrumento de apreensão da realidade social, embora inicialmente tivesse como objetivo o controle das famílias visitadas, numa perspetiva de controlo e normalização social, e em que as organizações religiosas e filantrópicas impunham padrões de higienização assim como morais. 

Hoje a visita domiciliária é um meio de aproximação do profissional e da instituição social com o utilizador do serviço, na medida em que permite avaliar as necessidades e potencialidades de uma forma mais próxima e enquadradas no meio em que a pessoa está inserida. A recolha de dados é partilhada com o utilizador do serviço e tem de ser contextualizada, para isso o assistente social tem de ter conhecimentos acerca do meio em que a pessoa está inserida assim como uma consciência da situação económica e política vigente que lhe permita uma interpretação de acordo com as reais necessidades e potencialidades da pessoa, fundamentando-a numa abordagem ecológica, em que as condições de vida de uma pessoa não podem ser isoladas das condições de vida da comunidade que, por sua vez, não estão separados do contexto social e histórico. 

A visita domiciliária é assim um espaço privilegiado de construção da relação, em que o assistente social se desloca à esfera privada da pessoa, numa perspetiva de diminuir a desigualdade de poder e aumentar a relação de confiança. A atitude do profissional deve ser sempre de respeito, não esquecendo que se está a entrar num espaço privado e a própria partilha da informação entre colegas, não deve revelar mais do que o essencial à compreensão da situação, sendo importante que o profissional informe com clareza o objetivo da visita, que seja acordado com o utilizador do serviço os motivos da sua realização e que a recolha de dados incida nos elementos que são importantes à análise da situação. 

A visita domiciliária também pode ser assumida como o local onde decorre a intervenção, e nesse sentido são definidos princípios orientadores da prestação dos serviços: 
  • A intervenção deve ser individualizada, tendo em conta a situação atual e uma das potencialidades da visita domiciliária é o facto de poder facilitar intervenções individualizadas para responder às necessidades de cada membro da família. 
  • A família é considerada como um sistema em que a mudança num individuo influencia todos os outros membros assim como o funcionamento global da família. 
  • A relação de ajuda deve ser conceptualizada como colaborativa entre o profissional e o utilizador do serviço, colocando a ênfase na importância da família trabalhar em cooperação e de uma forma ativa como os assistentes sociais. A família tem a responsabilidade de participar ativamente e o assistente social tem a responsabilidade de tornar a relação colaborativa possível. 
  • O assistente social deve ser flexível e responder de imediato às necessidades da família assim como aos seus objetivos a longo prazo. 
  • Os assistentes sociais devem ajudar as pessoas a identificar as necessidades assim como as opções de lhes responder, a partir das suas forças e da aprendizagem de novas habilidades. 
  • O assistente social deve estar atento a futuras necessidades da família e ajudá-los a considerarem novas habilidades e atitudes em situações futuras, pois o assistente social deve apoiar as famílias no seu processo de independência 
  • O assistente social deve avaliar as forças, as limitações e o progresso da família de uma forma contínua e utilizar o seu conhecimento para modificar as intervenções quando necessário. (Wasik e Bryant, 2001: 48-51). 
O assistente social constitui-se como um profissional cuja prática se exerce no domínio das relações interpessoais, se considerarmos para além da relação com a pessoa utilizadora do serviço, a relação que estabelece com outros profissionais, no domínio da interdisciplinaridade e da articulação entre instituições, numa construção de parcerias. De acordo com a complexidade dos problemas sociais com que o profissional e defrontado surge a necessidade de uma resposta que muitas vezes ultrapassa um campo profissional surge a interdisciplinaridade como proposta “(...) cuja visão de homem e de mundo volta-se para a globalidade, para a unidade do ser humano, para a interação, para a compreensão e modificação do mundo” (Sampaio et al, 2000:78). Nesta perspetiva reconhecem-se os limites e as especificidades, procurando uma unidade do saber que permita chegar à compreensão e à mudança desejada. O assistente social reconhece igualmente a necessidade de um trabalho em rede, com parcerias com outras instituições que permita responder de uma forma global e articulada, em que as sinergias de tempo e recursos beneficiam quer os profissionais como as pessoas utilizadoras dos serviços. O serviço social é uma disciplina das ciências sociais que partilha o seu saber com outras áreas de atividade sendo a intervenção do assistente social contextualizada pelos domínios económicos, políticos assim como as opções teóricas e metodológicas do profissional e a relação este estabelece com os indivíduos, grupos e comunidades é uma das possibilidades do profissional em considerar a pessoa como única e distinta de todas as outras, constituindo o elemento diferenciador em resposta aos procedimentos impostos pelas organizações e pelas políticas sociais implementadas. (...) Para alguns profissionais a relação é mesmo um dos “principais aspetos da especificidade do serviço social” (Amaro, 2012: 140) e assiste-se a um otimismo por parte dos profissionais, uma crença na relação que estabelecem e no seu desempenho profissional. Mas esta relação de ajuda rompe com os parâmetros assistencialistas, em que as pessoas utilizadoras dos serviços eram constituídas como beneficiários de uma intervenção. Neste quadro da prática profissional, em direção a uma cidadania, as pessoas utilizadoras dos serviços constituem-se como sujeitos da intervenção, atores no desenho do seu projeto de vida e este é um desafio que se coloca ao assistente social e à relação profissional que estabelece com a pessoa utilizadora do serviço, em que o vínculo é contratualizado numa relação profissional mas em que interagem duas pessoas, com personalidades, percursos de vida e formações e é desse encontro que nasce a relação que terá sempre um carácter único e irrepetível, tornando necessário que o profissional tenha consciência que o serviço social tem um enorme impacto na vida das pessoas e os profissionais têm de saber o que é a sua profissão e como agir (Beckett,2006)." 


PENA, Maria João Barroso - Relação profissional: utopia ou realidade? Lisboa: ISCTE-IUL, 2012. Tese de doutoramento. Disponível em: http://hdl.handle.net/10071/6348

A profissão de Assistente Social em Portugal


"A profissionalização do Serviço Social como projeto  foi tardia em Portugal e atravessou diferentes fases e dinâmicas; durante o regime do Estado Novo, o desígnio do desenvolvimento profissional esteve relativamente ausente enquanto projeto dos assistentes sociais portugueses. Apesar da constituição do Sindicato Nacional dos Profissionais de Serviço Social em 1950, o projeto da profissionalização só ganhou impulso após as transformações sociais e políticas de Abril de 1974, com a constituição, em 1978, da Associação dos Profissionais de Serviço Social; expressão por excelência do projeto de profissionalização do Serviço Social em Portugal e todo o processo de mobilização profissional, envolvendo as organizações associativas e académicas, pelo reconhecimento da Licenciatura em Serviço Social e a criação de uma carreira profissional própria, objetivos que viriam a ser concretizadas em 1989 e 1991, e que constituem, ainda hoje, o seu marco mais saliente… O ano de 1997 marcou o início de uma nova etapa deste movimento; é partir desta data que a APSS desenvolve um processo tendente à constituição como Ordem dos Assistentes Sociais, o que conduziu, em 2003 e agora em 2015, à apresentação formal, à Assembleia da República, do pedido de constituição da Ordem Profissional e de consagração do Estatuto Profissional dos Assistentes Sociais. A situação atual do Serviço Social em Portugal é atravessada por dinâmicas e tendências contraditórias do ponto de vista do projeto de desenvolvimento profissional. Por um lado, pode observar-se uma dinâmica de aprofundamento da dinâmica de profissionalização do serviço social em torno do processo de constituição de uma ordem profissional dos assistentes sociais, um processo em aberto, complexo e não linear quanto ao seu desfecho. Por outro lado, como se assinalou, a dinâmica de alargamento, sem precedentes, da formação em Serviço Social, se confere a esta profissão uma maior expressão quantitativa e presença no território nacional, não deixa de colocar problemas críticos em termos da regulação e qualidade da formação profissional de base dos novos e futuros profissionais. Por outro lado ainda, a precariedade das relações de trabalho e as transformações na esfera nas políticas sociais públicas, que apontam para a ativação, a territorialização e a individualização da política social e têm conduzido a mudanças nucleares nas conceções de solidariedade, cidadania e direitos sociais, a par da crescente presença de uma orientação managerealista, procedimentalista e instrumental (Amaro, 2009), podem tender a operar uma dinâmica de desprofissionalização, que se afigura problemática para o projeto de desenvolvimento profissional do serviço social em Portugal."


FRANCISCO BRANCO, CESSS - Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia, UCP