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Interaccionismo simbólico | FatmaSocial

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Teses centrais:

Mente (mind) e Ego (self) são produções da vida em grupo, construídos a partir de uma base biológica e fisiológica. Os humanos actuam em relação às pessoas e coisas com base nos significados que essas coisas ou pessoas assumem para eles. Os significados procedem do processo de interacção social, do modo como o indivíduo interpreta esse processo e, por sua vez, afectam novos processos de interacção.

Mente: Natureza social - Desponta e desenvolve-se a partir da interacção social. O progresso ocorre primeiro por meio de gestos que, na interacção, alcança função simbólica e, posteriormente pela comunicação simbólica mediada pela linguagem. A linguagem gestual/corporal e linguagem verbal conciliam-se nos processos de interacção. É no próprio processo que obtêm significado e, os significados codificados e as atitudes resultantes vão formar os conteúdos mentais (mente) que serão movimentados e possibilitarão a comunicação em interacções futuras.

A mente tem uma natureza social: “Temos que olhar a mente, portanto, como surgindo e desenvolvendo-se no âmbito do processo social, no âmbito da matriz empírica das interacções sociais. […] Os processos de experiência que o cérebro humano consente só são tornados possíveis para um grupo de indivíduos em interacção: só para organismos individuais que são membros de uma sociedade; não para o organismo individual isolado de outros organismos. A mente surge no processo social apenas quando esse processo como um todo entra, ou está presente, na experiência de qualquer um de dados indivíduos envolvidos nesse processo. Quando isto ocorre, o indivíduo torna-se autoconsciente e tem uma mente; ele apercebe-se das suas relações com esse processo como um todo, e com os outros indivíduos que nele participam consigo; e apercebe-se desse processo como modificado pelas reacções e interacções de indivíduos – incluindo ele próprio – que o está a realizar. “(MEAD,.1934 citado por BARATA, 1974)

Erving Gofffman, tentou mostrar que os episódios triviais da vida quotidiana, não consistiam apenas numa especialidade marginal reservado a curiosos e amadores, mas sim numa importância central da pesquisa sociológica. Goffman estudou a interacção social no dia-a-dia, especialmente em lugares públicos, representando esse estudo principalmente no seu livro “A Representação do Eu na Vida Quotidiana”. No seu livro intitulado “Estigma, Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada”, versou apresentações interessantes a respeito das marcas vistas negativamente em relação aos aspectos corporais, raciais, ou mesmo de paixões tirânicas.

Para Goffman, o exercício dos papéis sociais relaciona-se com o modo como cada indivíduo cria a sua imagem e a pretende manter. Goffman analisou também com peculiar atenção o que chamava de "instituições totais", locais onde o indivíduo era isolado da sociedade, tendo todas as suas acções concentradas e normalizadas (prisões, manicómios, conventos e algumas escolas internas).

No espaço da linguagem Erving Goffman coopera com o estudo da interacção humana, apresentando o conceito de "footing", que representa o "alinhamento, postura, posição, projecção do ”eu”, de um participante na sua relação com o outro, consigo próprio e com o discurso em construção."

Efectuou pesquisas na linha da sociologia interpretativa e cultural, iniciada por Max Weber. Em La mise en scène de la vie quotidienne, Goffman desenvolve a ideia que mais identifica a sua obra: o mundo é um teatro e cada um de nós, individualmente ou em grupo, teatraliza ou é actor consoante as circunstâncias em que nos encontremos, marcados por rituais posições distintivas relativamente a outros indivíduos ou grupos.

Goffman dedicou ao estudo da civilização moderna métodos idênticos de observação da antropologia cultural: assim como, nas sociedades indígenas, há ritualizações que possibilitam distinguir indivíduos e grupos, também, nas sociedades contemporâneas, a origem regional, a pertença a uma classe social ou quaisquer outras categorias se assinalam por ritualizações que diferenciam indivíduos e grupos, tomando por exemplo pequenas apresentações, como as formas de vestir ou de se apresentar publicamente.

Neste contexto, Goffman julga a interacção como um processo fundamental de identificação e de diferenciação dos indivíduos e grupos; de resto, os mesmos, isoladamente, não existem; só existem e procuram uma posição de diferença pela afirmação, na medida em que, precisamente, são "valorizados" por outros.

Nesta análise está presente a relação entre o conceito de "performance" e "fachada"; Goffman concilia todos os elementos do actuar : um actor actua numa posição onde há o palco e os bastidores; existe relação entre a peça e a sua actuação; ele é visto por um público, mas ao mesmo tempo, ele é o público da peça encenada pelos espectadores.

Segundo Goffman, o actor social tem a capacidade de escolher seu palco e a sua peça, assim como o modelo que e usará para cada público. O objectivo principal do actor é manter sua coerência e ajustar-se de acordo com a situação. Isso é feito, principalmente, com a interacção dos outros atores. 

Para Goffman, nas interacções, ou performances, as partes envolvidas podem ser público e actores conjuntamente; os actores normalmente actuam de forma que se antepõe a si mesmos e estimulam os outros, por diferentes meios a aceitar tal definição.

Goffman salienta que quando a acepção aceite da situação é desacreditada, alguns (ou todos) os actores podem fingir que nada mudou, caso acreditem que isso é lucrativo ou manterá a paz; Goffman afirma que esse género de atitude ocorre em todos os níveis de organização social, dos mais pobres às elites.

Neste prisma, Goffman destapou espaço teórico para o aprimoramento de métodos de pesquisa em geografia, enfocando, sobretudo a interacção social como forma de construção de significados, partindo da observação de pessoas ou grupos de pessoas por meio de suas representações. 

Para se compreender o comportamento humano é necessário entender a natureza do indivíduo e dos grupos sociais dos quais faz parte. Que papéis os indivíduos executam, quando e em que conjunturas se formaram e quais as condições em que se formaram, entre outras questões.

Ervin Goffman apresenta uma abordagem do estudo do quotidiano sob uma óptica da dramaturgia. Para a geografia social a metodologia adoptada pelo autor é uma grande tributo no sentido de investigar as representações sociais na estruturação do quotidiano de um bairro a partir da sua situação social. 

Bibliografia:

BARATA, O.S. (1974), Introdução às ciências sociais, Vol.1, Lisboa, Bertrand, pp.189-195

Dicionário de Sociologia, (2004). 1ª ed. Porto, Portugal: Porto Editora GOFFMAN, 1998 In: RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, PEDRO M.




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