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Dar o peixe, ensinar a pescar ou remover os muros?

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Culturas


Lemos, (2002) destacou como ponto de partida para a compreensão do comportamento social que assinala determinada época, a consciência de que existe sempre uma relação simbiótica entre o homem, a natureza e a sociedade, sendo que em cada período da história da humanidade prevalece uma cultura técnica particular.  
Assim, a cultura contemporânea é percebida pelo uso crescente de tecnologias digitais, gerando-se uma relação entre a técnica e a vida social e proporcionam-se novas formas de agregação social de maneira espontânea no ambiente virtual, com práticas culturais específicas que constituem a chamada cibercultura.  
Os relacionamentos sociais originados em rede desenvolvem-se no ciberespaço, compreendido como uma via da circulação de informação e espaço de comunicação, espaço virtual, que não existe em oposição ao real. (Silva, 2011). Para Lemos (2002), o ciberespaço pode ser tanto o lugar onde estamos quando entramos numa ambiência simulada, de realidade virtual, como a rede de computadores, interligada ou não, em todo o planeta. O ciberespaço é o ambiente simbólico onde as comunidades virtuais se constituem. 
Contudo, mesmo com a sociedade conectada mundialmente, com o contacto ou interacção social a acontecer em intervalo de segundos, o homem sente cada vez mais necessidade de procurar e integrar-se em novos grupos sociais, envolver-se com pessoas que partilhem algo em comum, com as quais tenha certa afinidade. Existe procura de características que lhe forneçam uma identidade, uma forma de se fazer reconhecer perante os outros. (Silva, 2011)

Culturas nacionais

Hall (1988) argumenta que as culturas nacionais no mundo moderno são compostas essencialmente de identidade cultural. Estas culturas formam-se não só de instituições culturais, mas são também símbolos e representações. As identidades culturais nacionais não são adquiridas à nascença, constituem-se e transformam-se no interior da representação; um discurso que constrói sentidos, organiza e influencia as nossas acções e a concepção que temos de nós mesmos.
“O discurso da cultura nacional não é, assim, tão moderno como aparenta ser. Constrói identidades que são colocadas, de modo ambíguo, entre o passado e o futuro. Equilibra-se entre a tentação de retornar a glórias passadas e o impulso de avançar ainda mais em direção à modernidade.” (Hall, 1988, p. 56)
As culturas nacionais estão viradas para o passado, constituindo um elemento regressivo da história da cultura. Esta cultura procura unificar a identidade dos seus membros, para representar todos como a mesma família.
“Uma forma de unificá-las tem sido a de representá-las como expressão da cultura subjacente de um único povo. A etnia é o termo utilizado para nos referirmos às características culturais – língua, religião, costume, tradições, sentimento de lugar- partilhados por um povo.” (Hall, 1988, p. 62)
O efeito geral do processo de globalização para alguns, tem sido o enfraquecimento das formas nacionais de identidade cultural; a questão centra-se no global e no local na transformação das identidades, pois estas representam um vínculo.
 “Parece então, que a globalização tem, sim, o efeito de contestar e deslocar as identidades centradas e fechadas de uma cultura nacional. Tem um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, plurais e diversas; menos fixas e unificadas.” (Hall, 1988, p. 87)

Culturas de pertença

Merton (1957) alterou a designação de “grupos de referência”, para “grupos de pertença” (p.203). Estas culturas de pertença em rede são produto da transformação radical do sistema dos média, substituindo interacções face a face, seja com a família, amigos ou escola.
Para Cardoso e Jacobetty (2012), estas culturas integram quatro dimensões diferentes de práticas, ajustaram os nossos valores e crenças e criaram uma cultura estabelecida no individualismo em rede, já não centrada no interesse próprio:
·      “culturas da nuvem” sob a concepção actual da propriedade;
·       “culturas de abertura” advindas da forma como contamos que os bens e serviços sejam produzidos;
·      “culturas pirata” relativamente à forma como esperamos que os bens e serviços sejam distribuídos;
·      “culturas sociais em rede” relacionadas com a forma como construímos a identidade, combinando o ambiente mediado e a experiência não mediada em redes de relações.
Ainda em Cardoso e Jacobetty (2012), encontramos a explicação de que na vida quotidiana, o sentimento de pertença se ajusta, a diferentes níveis, os processos de (re)construção, sociais e psicológicos, do self e da identidade. As redes podem potenciar, através da mediação[1], as relações sociais e, consequentemente alimentar o sentimento de pertença de uma comunidade; este sentimento de pertença pode encontrar-se através do envolvimento comunitário ou como preenchimento de necessidades pessoais de auto-estima.


By Fatma




[1] Comunicação mediada: de um para muitos.


A diáspora dos ciganos | FatmaSocial

Os ciganos representam a maior minoria da Europa. São cerca de 11 milhões - mais do que a população de Portugal. Mas não possuem registos escritos da sua história nem tão-pouco das suas andanças pelo mundo. Isso levou um grupo de geneticistas de 15 países europeus - Portugal, Espanha, Reino Unido, Bélgica, Holanda, Hungria, Croácia, Eslováquia, Sérvia, Grécia, Roménia, Bulgária, Ucrânia, Lituânia e Estónia - a juntar esforços para tentar determinar, através de uma análise ao ADN das várias comunidades ciganas, a origem e o percurso geográfico da diáspora cigana.

Por um lado, os resultados vêm confirmar que, apesar das grandes diferenças culturais, religiosas e linguísticas que existem entre as diversas comunidades ciganas que hoje residem nos países europeus, os antepassados de todos os ciganos vieram do mesmo sítio. Por outro, permitem estimar a data em que os ciganos ancestrais saíram do seu "berço" genético, bem como a data em que teve início a sua expansão pela Europa fora.

Gerschenfeld, Ana . Consulte aqui na íntegra.

Os ciclos económicos | FatmaSocial

O estudo dos ciclos económicos deve basear- se numa teoria dos ciclos que seja satisfatória. Mergulhar num maço de dados estatísticos sem "pré-julgamento" é inútil. Os ciclos ocorrem no mundo económico, portanto uma teoria útil sobre ciclos económicos deve ser integrada à teoria económica geral. E, ainda assim, tal integração, ainda que uma simples tentativa, é a excepção, e não a regra. A ciência económica, nas últimas décadas, foi perversamente fissurada e dividida em inúmeros compartimentos herméticos — cada esfera raramente se relaciona às outras. Somente nas teorias de Schumpeter e Mises a teoria dos ciclos foi integrada à economia geral.[1]

A maior parte dos especialistas em ciclos económicos, que despreza qualquer integração sistemática como sendo impossível de ser deduzida e muito simplificada, está dessa forma (consciente ou inconscientemente) a rejeitar a economia em si, pois se alguém cria uma teoria dos ciclos com pouca, ou nenhuma, relação com a teoria geral da economia, isso significa que essa teoria geral deve estar incorrecta, pois falha ao não explicar esse vital fenómeno económico.

Para os institucionalistas —colectores de dados brutos — e provavelmente para outros grupos, essa é uma conclusão bem-vinda. Entretanto, até os institucionalistas têm que usar a teoria de vez em quando, para fazer análises e recomendações; e, na verdade, o que eles acabam por usar, sempre que necessário, são um emaranhado de adivinhações e insights, tirados de maneira não metódica de várias teorias distintas. Poucos economistas perceberam que a teoria dos ciclos económicos criada por Mises não é apenas mais uma teoria: ela, na verdade, assemelha-se muito a uma teoria geral do sistema econômico.[2] A teoria de Mises é, de facto, a análise das consequências inevitáveis da intervenção no livre mercado feita pela expansão bancária de crédito. Seguidores da teoria de Mises frequentemente mostram-se muito modestos ao expressar as suas asserções; eles têm abertamente declarado que a teoria é "somente uma das muitas explicações possíveis para os ciclos económicos", e que cada ciclo pode ser explicado por 


[1] Vários neo-Keynesianos têm criado teorias dos ciclos. Entretanto, essas teorias não estão integradas à teoria econômica geral, mas, sim, aos holísticos sistemas keynesianos — sistemas esses que, na verdade, são muito parciais. 

[2] Não há, por exemplo, nenhuma alusão a tal conhecimento na conhecida discussão feita por Haberler. Ver Gottfried Haberler, Prosperity and Depression (2­­­ª ed., Genebra, Suíça: Liga das Nações, 1939).

Rothbard, Murray N. Consulte na íntegra

Teorias do envelhecimento | FatmaSocial

Todas as espécies envelhecem e sofrem alterações notáveis desde o nascimento até a morte. Os cientistas desenvolveram teorias tentando explicar a razão pela qual as pessoas envelhecem, embora nenhuma delas tenha sido comprovada. Em última instância, podem ser extraídas de cada teoria explicações da razão das pessoas envelhecerem e morrerem. 

Teoria do Envelhecimento Programado

Esta teoria explica o envelhecimento unicamente através de factores genéticos, ou seja, a velocidade com que uma espécie envelhece é predeterminada por seus genes, ou se preferirmos, os genes determinam quanto tempo as células viverão. 

Os defensores desta teoria acreditam que as células do nosso organismo estão geneticamente programadas para morrer após um certo número de divisões celulares (mitose). Atingido esse número seria então desencadeado o processo de morte, cujo momento estaria ligada a idade biológica, variando assim entre as diversas espécies. 

À medida que as células morrem, os órgãos começam a apresentar um mau funcionamento e, finalmente, não conseguem manter as funções biológicas necessárias para a manutenção da vida. 

Teoria dos Radicais Livres

Actualmente, esta será uma das melhores teorias explicativas do envelhecimento. 

A teoria dos radicais livres surgiu em 1954, com o Dr. Denham Harmon, que propôs que as células envelhecem em consequência de danos acumulados devido às reacções químicas que ocorrem no interior das células. Durante essas reacções, são produzidas toxinas denominadas radicais livres. 

Radicais livres são substâncias tóxicas que possuem um número ímpar de electrões e que por isso procuram ligar-se a outras moléculas para emparelhar o seu electrão livre, acabando por danificar as células. Desta forma, os radicais livres oxidam praticamente tudo, possuindo também a capacidade de gerar novos radicais livres. Nessa busca desenfreada por novos parceiros os radicais livres destroem enzimas e atacam células, causando nelas sérios danos estruturais cuja consequência será o seu mau funcionamento e morte. 

As células nervosas são um dos alvos dos radicais livres. Como as células nervosas não se reproduzem, o número de neurónios tende a diminuir cada vez mais, havendo assim menos conexões sinápticas, conduzindo a perdas da capacidade funcional. Com o passar do tempo, mais e mais lesões são causadas, até muitas células não funcionarem normalmente ou morrerem. Quando isso acontece, o organismo também morre. 

Uma vez que os radicais livres resultam de um processo de oxidação, fornecer ao organismo anti – oxidantes é a melhor forma de atenuar os efeitos dos radicais. O principal anti – oxidante endógeno é a melotonina, produzida pela glândula pineal durante o sono. Também as vitaminas C e E são importantes anti – oxidantes, mas estes exógenos. 

Esta teoria é assegurada pelas inúmeras evidências científicas de que os radicais livres estão envolvidos praticamente em todas as doenças típicas da idade, como a arteriosclerose, as doenças coronárias, a catarata, o cancro, a hipertensão, as doenças neurodegenerativas e outras.

Cancela, Diana. Leia na íntegra.

Sociologia da infância | FatmaSocial

O social no bebé decorre de uma situação social de desenvolvimento singular e nunca mais se repete.

 Essa singularidade é definida por dois momentos:
·         o bebé não tem condições de satisfazer sozinho nenhuma das suas necessidades vitais, que só podem ser satisfeitas com a ajuda de adultos ou pessoas que cuidam dele. Assim, o primeiro contacto da criança com a realidade é socialmente mediado.
·          ao mesmo tempo em que o bebé está numa relação de máxima dependência dos adultos, também não domina os principais meios de comunicação (de relação) social, que é a língua humana.


“…o desenvolvimento cultural da criança representa um tipo especial de desenvolvimento; em outras palavras, o processo de enraizamento dela na cultura não pode, por um lado, ser identificado com o processo de maturação orgânica e, por outro, não pode ser reduzido à simples assimilação mecânica de habilidades externas.” (VIGOTSKI, 1983, p. 303).

 Prestes, Zoia.Consulte o artigo na íntegra

Desafios da Revolução Social | FatmaSocial


As transformações e crises provocadas pela emergência e o desenvolvimento da sociedade civil, urbano-industrial, burguesa ou capitalista, constituem outra matriz da Sociologia. O modo de vida e trabalho na comunidade feudal vem abaixo com a formação da sociedade civil, a organização do estado nacional. Há uma vasta, complexa e contraditória revolução social na Europa, transbordando para outros continentes. O mercantilismo, ou a acumulação originária, iniciava um amplo processo de europeização do mundo. Simultaneamente, a Europa sentia que se transformava, em sua fisionomia social, econômica, política e cultural. Estava em marcha a revolução burguesa, atravessando países e continentes, sempre acompanhada de surtos de contra-revolução.

No meio da revolução e contra-revolução, combinando e opondo diferentes setores sociais, grupos e classes, províncias e regiões, interesses emergentes e estabelecidos, emergiam burgueses, trabalhadores assalariados diversos, camponeses, setores médios urbanos, intelectuais, burocracia pública e privada. À medida que se desenvolve e consolida a ordem social burguesa, impondo-se ao antigo regime, multiplicam-se as lutas sociais urbanas e rurais. Depois da revolução burguesa ocorrida na Inglaterra no século XVII e da Revolução Francesa iniciada em 1789, o século XIX assiste às revoltas populares no campo e nos centros urbano-industriais. O Cartismo na Inglaterra, desde 1835, e a Revolução de 1848-49, na França e em outros países europeus, assinalam a emergência do operariado como figura histórica. Em outros termos, e sob diferentes condições, algu mas linhas dessa história manifestam-se na Alemanha, Itália, países que compõem o Império Austro-Húngaro, Rússia, Espanha e outros. O século XIX nasce também sob o signo dos movimentos de protesto, greve, revolta e revolução. Aí estão alguns traços da sociedade burguesa, com tintas de modernidade.

É evidente que o tema da revolução social está no horizonte de alguns dos principais fundadores e continuadores da Sociologia. Estão preocupados em compreender, explicar ou exorcizar as revoluções que ocorrem na Europa e em países de outros continentes. E verdade que algumas revoluções preocuparam mais diretamente os fundadores. Dentre essas destacam-se as francesas e européias de 1789, 1848-49 e 1871. Mas logo eles e outros passaram a interessar-se pelas revoluções que haviam ocorrido e iam ocorrendo nas Américas e na Ásia. Alguns livros fundamentais denotam essa preocupação: Tocqueville, O Antigo Regime e a Revolução; Marx, As Lutas de Classes na França; Engels, Revolução e Contra-Revolução na Alemanha; Lenin, Estado e Revolução; Hannah Arendt, Sobre a Revolução; Barrington Moore Jr., As Origens Sociais da Ditadura e Democracia; Karl Polanyi, A Grande Transformação; Joseph A. Schumpeter, Capitalismo, Socialismo e Democracia; Theda Skoopol, Estados e Revoluções Sociais.

Naturalmente estão em causa várias formas da revolução social. Em um primeiro momento, o que sobressai é o empenho em explicar a revolução burguesa, que pode ser democrática, autoritária, prussiana, passiva. Em outro, a ênfase recai na revolução popular, operária, camponesa, operário-camponesa ou socialista. Mas também há interesse em analisar o contraponto revolução e contra-revolução. Em vários casos, de permeio a essas preocupações, coloca-se o desafio da revolução permanente. Isto é, as condições das continuidades e descontinuidades entre a revolução burguesa e socialista, em escala nacional e internacional.

A rigor, a análise da revolução social é um modo de conhecer a sociedade, as forças sociais que governam os movimentos da sociedade nacional tomada como um todo. Essa manifestação “extrema” da vida social parece revelar mais abertamente as relações, os processos e as estruturas, compreendendo dominação política e apropriação econômica, que organizam e movimentam a sociedade moderna. Como um todo, em seus grupos e classes, movimentos sociais e partidos políticos, as relações entre a sociedade civil e o estado revelam-se mais nítidas nas rupturas revolucionárias. A revolução social pode ser vista como uma situação extrema, um experimento crucial, um evento heurístico, quando se revelam mais desenvolvidas as diversidades e disparidades, os desencontros e antagonismos, que governam os movimentos fundamentais da sociedade.

Estava em curso o desenvolvimento da sociedade nacional, urbano-industrial, burguesa, de classes. Com a dissolução, lenta ou rápida, da comunidade feudal, emergia a sociedade civil. Essa ampla transformação concretiza-se em processos sociais de âmbito estrutural, tais como: “ — industrialização, urbanização, divisão do trabalho social, secularização da cultura e do comportamento, individuação, pauperismo, lumpenização e outros. Esse é o palco dotrabalhador livre, formado com a sociedade moderna.

Esse é o vasto cenário histórico que se constitui na matéria prima da Sociologia. Ela surge como uma forma de autoconsciência científica da realidade social. Essa é a realidade que alimenta boa parte dos escritos de Saint-Simon, Bonald, Maistre, Tocqueville, Comte, Burke, Spencer, Feuerbach, Marx e outros. É claro que esses pensadores alimentamse dos ensinamentos filosóficos de Hobbes, Locke, Montesquieu, Vico, Herder, Rousseau, Kant e Hegel, além dos enciclopedistas e outros. Mas é inegável que todos estão tratando de compreender, explicar e responder às transformações e crises manifestas em processos sociais estruturais, em movimentos de protesto, greve, revolta e revolução.

A Sociologia posterior dá continuidade a esse empenho de compreender, explicar, responder às transformações e crises sociais. Os escritos de Durkheim, Mauss, Halbwachs, Weber, Simmel, Toennies, Goldmann, Znaniecki, Mannheim, Gurvitch, Sorokin, Myrdal, Park, C.W. Mills, Merton, Parsons, Lazarsfeld, Bourdieu, Nisbet, Gouldner, Barrington Moore Jr., Schutz, Adorno e outros dão continuidade a esse empenho. É claro que são diversas e desiguais as contribuições de uns e outros, tanto do ponto de vista teórico como no que se refere as suas implicações políticas. No plano teórico, além das sugestões relativas ao hiper-empirismo e à fenomenologia, como nos casos de Gurvitch e Schutz, outros revelam-se ecléticos e alguns ortodoxos. No plano político também revelam todo um leque de posicionamentos, dentre os quais destacam-se liberais, conservadores e radicais. Mas talvez se possa dizer que todos buscam compreender, explicar, controlar, dinamizar ou exorcizar as condições das transformações e crises.

Em outros termos, em outros países e continentes, a Sociologia continua a desenvolver-se desafiada pelos dilemas da sociedade moderna mais ou menos desenvolvida. Na América Latina, África e Ásia tanto ressoam as idéias e teorias como os temas e explicações. Há contribuições que parecem anacrônicas, exóticas ou ecléticas, pelo que ressoam das sociologias européias e norte-americanas. Mas também há criações originais, inovações. Colocam-se novos temas e outras explicações. Surpreendem e desafiam, pela originalidade, força e invenção.

A rigor, esses continentes e países são, em certa medida, criações do Mundo Moderno, desdobramentos das forças sociais que movimentam a sociedade moderna. Desenvolvem-se e transformam-se com os desenvolvimentos e as transformações que ocorrem na Europa e nos Estados Unidos. O colonialismo, imperialismo, nacionalismo, cosmopolitismo e internacionalismo podem ser vistos como produtos e condições de um amplo processo de europeização do mundo. Em distintas formas e ocasiões, os países e continentes atrelam-se desigual e contraditoriamente ao que parece ser a força civilizatória do capital.

Revolucionam-se os modos de vida e as culturas nativos nas mais longínquas regiões. Os bárbaros são obrigados a civilizar-se, assumindo a barbárie do capital. Os povos fetichistas, panteistas, sem história, que vivam mergulhados no estado de natureza, são obrigados a assimilar o monoteismo bíblico, a diligência do trabalho que produz mercadoria e lucro, a disciplina exigida pela criação da mais-valia, a religião do capital. Está em marcha a revolução burguesa em escala mundial. Ao mesmo tempo, por dentro e por fora dessa revolução, desenvolvem-se revoluções nativistas, nacionalistas, sociais, populares, socialistas. Uma espécie de revolta desesperada contra a missão civilizatória do capital.

Esse é o amplo cenário no qual o pensamento sociológico originário da Europa e dos Estados Unidos tanto se difunde como entra em relação e confronto com outras idéias, teorias, temas, explicações. As obras de Frantz Fanon, José Carlos Mariátegui e Florestan Fernandes, para citar apenas esses exemplos, expressam e simbolizam uma parte importante dessa história. Mostram em que e como se modernizam os países e continentes que estão além da Europa e Estados Unidos. Ressoam contribuições européias recriadas em face de outros temas, dilemas. Mostram como se dá a revolução burguesa em outras partes do mundo. E como nascem as condições do socialismo, no contraponto com a barbárie. No começo e na travessia, a revolução social parece sempre presente no horizonte da Sociologia.

lanni, Octavio  in "A SOCIOLOGIA E O MUNDO MODERNO". Consulte aqui na íntegra.



Interaccionismo simbólico | FatmaSocial

Teses centrais:

Mente (mind) e Ego (self) são produções da vida em grupo, construídos a partir de uma base biológica e fisiológica. Os humanos actuam em relação às pessoas e coisas com base nos significados que essas coisas ou pessoas assumem para eles. Os significados procedem do processo de interacção social, do modo como o indivíduo interpreta esse processo e, por sua vez, afectam novos processos de interacção.

Mente: Natureza social - Desponta e desenvolve-se a partir da interacção social. O progresso ocorre primeiro por meio de gestos que, na interacção, alcança função simbólica e, posteriormente pela comunicação simbólica mediada pela linguagem. A linguagem gestual/corporal e linguagem verbal conciliam-se nos processos de interacção. É no próprio processo que obtêm significado e, os significados codificados e as atitudes resultantes vão formar os conteúdos mentais (mente) que serão movimentados e possibilitarão a comunicação em interacções futuras.

A mente tem uma natureza social: “Temos que olhar a mente, portanto, como surgindo e desenvolvendo-se no âmbito do processo social, no âmbito da matriz empírica das interacções sociais. […] Os processos de experiência que o cérebro humano consente só são tornados possíveis para um grupo de indivíduos em interacção: só para organismos individuais que são membros de uma sociedade; não para o organismo individual isolado de outros organismos. A mente surge no processo social apenas quando esse processo como um todo entra, ou está presente, na experiência de qualquer um de dados indivíduos envolvidos nesse processo. Quando isto ocorre, o indivíduo torna-se autoconsciente e tem uma mente; ele apercebe-se das suas relações com esse processo como um todo, e com os outros indivíduos que nele participam consigo; e apercebe-se desse processo como modificado pelas reacções e interacções de indivíduos – incluindo ele próprio – que o está a realizar. “(MEAD,.1934 citado por BARATA, 1974)

Erving Gofffman, tentou mostrar que os episódios triviais da vida quotidiana, não consistiam apenas numa especialidade marginal reservado a curiosos e amadores, mas sim numa importância central da pesquisa sociológica. Goffman estudou a interacção social no dia-a-dia, especialmente em lugares públicos, representando esse estudo principalmente no seu livro “A Representação do Eu na Vida Quotidiana”. No seu livro intitulado “Estigma, Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada”, versou apresentações interessantes a respeito das marcas vistas negativamente em relação aos aspectos corporais, raciais, ou mesmo de paixões tirânicas.

Para Goffman, o exercício dos papéis sociais relaciona-se com o modo como cada indivíduo cria a sua imagem e a pretende manter. Goffman analisou também com peculiar atenção o que chamava de "instituições totais", locais onde o indivíduo era isolado da sociedade, tendo todas as suas acções concentradas e normalizadas (prisões, manicómios, conventos e algumas escolas internas).

No espaço da linguagem Erving Goffman coopera com o estudo da interacção humana, apresentando o conceito de "footing", que representa o "alinhamento, postura, posição, projecção do ”eu”, de um participante na sua relação com o outro, consigo próprio e com o discurso em construção."

Efectuou pesquisas na linha da sociologia interpretativa e cultural, iniciada por Max Weber. Em La mise en scène de la vie quotidienne, Goffman desenvolve a ideia que mais identifica a sua obra: o mundo é um teatro e cada um de nós, individualmente ou em grupo, teatraliza ou é actor consoante as circunstâncias em que nos encontremos, marcados por rituais posições distintivas relativamente a outros indivíduos ou grupos.

Goffman dedicou ao estudo da civilização moderna métodos idênticos de observação da antropologia cultural: assim como, nas sociedades indígenas, há ritualizações que possibilitam distinguir indivíduos e grupos, também, nas sociedades contemporâneas, a origem regional, a pertença a uma classe social ou quaisquer outras categorias se assinalam por ritualizações que diferenciam indivíduos e grupos, tomando por exemplo pequenas apresentações, como as formas de vestir ou de se apresentar publicamente.

Neste contexto, Goffman julga a interacção como um processo fundamental de identificação e de diferenciação dos indivíduos e grupos; de resto, os mesmos, isoladamente, não existem; só existem e procuram uma posição de diferença pela afirmação, na medida em que, precisamente, são "valorizados" por outros.

Nesta análise está presente a relação entre o conceito de "performance" e "fachada"; Goffman concilia todos os elementos do actuar : um actor actua numa posição onde há o palco e os bastidores; existe relação entre a peça e a sua actuação; ele é visto por um público, mas ao mesmo tempo, ele é o público da peça encenada pelos espectadores.

Segundo Goffman, o actor social tem a capacidade de escolher seu palco e a sua peça, assim como o modelo que e usará para cada público. O objectivo principal do actor é manter sua coerência e ajustar-se de acordo com a situação. Isso é feito, principalmente, com a interacção dos outros atores. 

Para Goffman, nas interacções, ou performances, as partes envolvidas podem ser público e actores conjuntamente; os actores normalmente actuam de forma que se antepõe a si mesmos e estimulam os outros, por diferentes meios a aceitar tal definição.

Goffman salienta que quando a acepção aceite da situação é desacreditada, alguns (ou todos) os actores podem fingir que nada mudou, caso acreditem que isso é lucrativo ou manterá a paz; Goffman afirma que esse género de atitude ocorre em todos os níveis de organização social, dos mais pobres às elites.

Neste prisma, Goffman destapou espaço teórico para o aprimoramento de métodos de pesquisa em geografia, enfocando, sobretudo a interacção social como forma de construção de significados, partindo da observação de pessoas ou grupos de pessoas por meio de suas representações. 

Para se compreender o comportamento humano é necessário entender a natureza do indivíduo e dos grupos sociais dos quais faz parte. Que papéis os indivíduos executam, quando e em que conjunturas se formaram e quais as condições em que se formaram, entre outras questões.

Ervin Goffman apresenta uma abordagem do estudo do quotidiano sob uma óptica da dramaturgia. Para a geografia social a metodologia adoptada pelo autor é uma grande tributo no sentido de investigar as representações sociais na estruturação do quotidiano de um bairro a partir da sua situação social. 

Bibliografia:

BARATA, O.S. (1974), Introdução às ciências sociais, Vol.1, Lisboa, Bertrand, pp.189-195

Dicionário de Sociologia, (2004). 1ª ed. Porto, Portugal: Porto Editora GOFFMAN, 1998 In: RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, PEDRO M.




Classes Sociais e Estratificação

Teorias das Classes Sociais

Elemento central de pesquisa, pois contribuem para a análise e explicação das estruturas e processos sociais.

A teoria restrita (teoria das classes sociais), articula-se com a matriz teórica da sociologia (teoria do social), identificando a produção e reprodução das classes sociais.

Contudo a problemática da estratificação, afasta-se da das classes, no que respeita a explicações sobre a origem e reprodução das classes sociais.

As teorias da estratificação consideram as desigualdades funcionais, na perspectiva das classes elas derivam de configurações históricas específicas, irredutíveis a explicações exteriores aos processos sociais colectivos.

Persistem diversos critérios para qualificação de grupos de status e classes, predominando o prestígio e a estima social; a distribuição de bens desejáveis e raros são a questão fundamental. O critério decisivo prende-se com a forma de inserção no processo de produção e na divisão social do trabalho.

Parsons (1940), idealista referia: “..se quer os indivíduos enquanto unidades, quer a avaliação moral, são essenciais aos sistemas sociais, então esses indivíduos serão avaliados como unidades”. A necessidade social de avaliação conjuga-se com a da estratificação e do ordenamento hierárquico dos actores sociais.

Dahrendorf (1974), identificou a origem da estratificação nas normas, ou seja, nos valores socialmente estabelecidos: “A origem das desigualdades encontra-se então na existência, em todas as sociedades humanas, de normas de comportamento a que se encontram associadas sanções.”

Weber (1965), individualista, referencia os processos de produção de subjectividade (socialização), utilizando formas de explicação pelo social. Assim, é o indivíduo o gerador de sentido e acção, a que se remetem todos os efeitos sociais. O social é um conjunto de elementos adicionados, resultante de agregações individuais. 

Em Davis e Moore (1945), as posições sociais, apresentam-se numa hierarquia ordenada segundo a importância funcional relativa dessas posições para a sociedade e o grau de exigência que englobam, seja em capacidade ou talento, envolvendo escassez ou abundância de candidatos viáveis. As sociedades necessitam que as diversas funções sejam ocupadas e eficazmente cumpridas as inerentes actividades. A estas posições associam-se recompensas diferenciadas, motivando os indivíduos adequados, não só para preenchê-las, mas para plenamente cumprir deveres e executar tarefas associadas. Então a desigualdade institucionalizada de recompensas (sistema de estratificação social), forma uma necessidade funcional em qualquer sociedade.


Bernard Barber (1957), parte também dos valores socialmente partilhados, condição da integração social, fundamentando a avaliação diferenciada que os indivíduos fazem dos papéis socialmente existentes. Como expressões de juízos baseados em valores comuns, os sistemas de estratificação desempenham funções de coesão social e cumprem funções instrumentais ou adaptativas, através das inerentes recompensas ou privações. Desta forma um sistema de estratificação consiste: “ Numa estrutura de desigualdades regularizadas, numa estrutura hierárquica contínua ao longo da sua dimensão vertical”.


A análise da estratificação pode organizar-se então em torno de 4 temáticas, articuladas entre si: necessidades e imperativos funcionais, motivações, selecção social e desigualdades e por último, ordem social, equilíbrio, consenso.


Mills (1973), discutiu o declínio dos mitos do êxito e do self-mad man na sociedade americana, salientando a “falta de conexão entre o mérito e a mobilidade, entre a virtude e o êxito”. As críticas ao sistema de selecção denunciam as “oportunidades desiguais”, que excluem muitos potencialmente mais aptos e são dirigidas ainda, às modalidades de mobilidade vertical de alguns.

Num artigo recente, Parsons (1970), refere que a institucionalização da estratificação constitui “um aspecto essencial para a solução do problema da ordem nos sistemas sociais através da legitimação de desigualdades essenciais..”

Segundo Durkheim (1977), as sociedades industriais, rompendo os equilíbrios antigos entre os fins a que os homens se propunham e os meios ao seu alcance para os atingir, necessitavam de novos processos de reposição da integração social.

O campo da sociologia contribui ainda hoje para a herança de Weber, onde a estratificação resulta da distribuição do poder segundo 3 hierarquias fundamentais: ordem económica – “classes”; ordem social – “grupos de status”; ordem política –“partidos”. No entanto as modernas análises de estratificação foram construídas essencialmente em torno dos “grupos de status”. O status atribuído e o status subjectivo ganharam grande relevância nos estudos empíricos, pois são consistentes com os modelos da acção e são adequados à avaliação da distribuição social do prestígio.

Esta avaliação do ordenamento hierárquico, segundo Parsons faz-se a partir de 3 tipos de características: atributos-objectos que os actores detêm e controlam; características inatas ou adquiridas pelos actores que lhes são inerentes; realizações dos actores. O prestígio surge então como índice – resumo de diversos elementos: rendimentos, nível de educação, situação profissional, estilo de vida, pertença religiosa, distinções étnicas.

A maioria dos autores através de fixação da unidade base da estratificação, elege directamente o indivíduo, mesmo considerando a família como base pertinente, mas geralmente a inclinação é qualificar em função do status do respectivo chefe.

A teoria dos grupos dereferência (Hyman, 1942), deu um passo acrescido na eliminação da noção de um conjunto indiferenciado de valores, qualificando de modo mais preciso os sistemas ideológicos que dirigem as opções individuais. Os actores seleccionam grupos (a que pertencem ou grupos exteriores em que aspiram integrar-se), que servem de elemento comparativo e fonte normativa. As formas de influência em atitudes, opiniões e comportamentos, exercitadas a partir da selecção vão compor o objecto analítico fundamental da teoria, onde a proximidade com a noção de privação relativa é evidente.

Ao estudo dos processos de formação, cristalização e de mudança das disposições das classes, tem de conjugar-se o estudo das determinações sociais adjacentes à selecção dos grupos de referência, bem como a análise do sistema de trajectórias sociais objectivas.

O conceito de classes sociais assenta portanto, nas práticas colectivas produtoras do social, nas relações sociais. As classes funcionam como instrumento conceptual, como mediação entre as estruturas sociais e um conjunto de práticas socialmente indicativas. As estruturas condicionantes resultam das práticas sociais, exprimem cristalizações de organização económica e social, sistemas ideológicos, organizações políticas. 

Falar de classes é falar de “protagonistas dos processos sociais”, que produzindo e reproduzindo a sua identidade, modelam as condições sociais que a definem e falar das estruturas que demarcam o espaço onde os processos ocorrem. (Almeida, João Ferreira,1999 -1986)

Para Marx (1965), “o modo de produção da vida material domina em geral o desenvolvimento da vida social, política e intelectual..”

Então, as dimensões económicas são decisivas para a estruturação das classes sociais, resultado das propostas da teoria da estratificação nas aplicações empíricas. As definições “objectivas” dos estratos sociais atentam a essas dimensões e a ordenação de prestígio faz-se, tomando por objecto as ocupações socialmente existentes. Independentemente das avaliações de estatuto “atribuído” ou “subjectivo”, o indicador socioprofissional frequentemente tem o peso fulcral e aparece como elemento discriminante para a explicação dos comportamentos.

Situação de classe, a partir dos lugares da divisão do trabalho-“Determinação estrutural de classe” (Poulantzas, 1974) – não se confina à esfera económica. Estes lugares representam também relações e funções a outroa níveis: relações de dominação – subordinação política e ideológica.

A propriedade define poder e a exclusão desse poder. As relações de produção e a divisão social do trabalho estabelecem uma fonte de efeitos multiplíces no espaço social.

Bourdieu (1979) especificou classes através de “propriedades objectivadas”, que em conjunto com as “propriedades incorporadas” definiriam a “classe objectiva”. O conceito de habitus, foi desenvolvido por Bourdieu a partir de sugestões de Weber e Mauss, “sistema de disposições duradouras e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona em cada momento como uma matriz de percepção, de apreciações e de acções..”.

Em Marx “classe em si” e “classe para si”, só pode ser mantida se ficar claro que a classe existe, implicando práticas distintas com efeitos sociais, mesmo antes de se poder falar da globalidade da consciência ou das organizações específicas. O sistema de disposição gera comportamentos automáticos. 

Voltando a Bourdieu, pela mediação do habitus, a diversidade das origens e trajectos contibui para definir as distintas posições sna conjuntura de fracções ou camadas da mesma classe.

Os efeitos do trajecto provêm da história de classe. É essencial reorganizar o processo de estruturação transgeracional das lutas desenvolvidas, contínuas circunstâncias, dialéctica de enfrentamento com outras calasse e fracções, abrangendo a própria luta pela redefinição do espaço social e ocupação-desocupação dos lugares. A identidade é um ponto de chegada provisório (lugar de classe num certo momento), não significa identidade de percurso, é necessário determinar o itinerário dos “ocupantes”.

A teoria das classes designa portanto, um sistema de diferenças sociais presentes na estruturação de uma diversidade de práticas socialmente pertinentes.

A formação de habitus, é então a formação de competências particulares e incompetências interiorizadas. A sua distribuição desigual pelas famílias de classe, contribui para a especificidade de vias familiares de reprodução dos diversos tipos de força de trabalho. Começam aqui a actuar os mecanismos sociais de qualificação, selecção e distribuição, processos de filtragem que regulam a mobilidade e o sistema global da divisão social do trabalho.

Bibliografia:

Almeida, João Ferreira de (1999,1986) Classes Sociais nos Campos: Camponeses Parciais numa Região do Noroeste, Oeiras, Celta, Editora, pp. 45 - 103.

Interacção Social

Georg Herbert Mead, juntamente com William James, Pierce e Dewey, fez parte de uma corrente teórica da filosofia americana designada pragmatismo. Hebert Blumer, em 1937 classificou o pensamento de Mead, juntamente com o de vários filósofos e sociólogos, como respeitante a uma linha de pensamento mais geral designado interaccionismo simbólico.

As suas teorias investigaram especialmente a Relação entre indivíduo e sociedade, abrangendo na vertente sociológica, a Psicologia Social. O livro e curso que Mead apresentou entre 1900 – 1901 até 1931 denominou-se Mente, Self (Persona), Sociedade; quando morreu, Herbert Blumer adoptou-o dando-lhe o nome de Interaccionismo simbólico.

Para Mead o Self deve ser compreendido tanto filogeneticamente resultado da evolução das espécies como ontogeneticamente em termos do desenvolvimento de cada membro individual. A individualização é o resultado da socialização não sua antítese, observe-se historicidade do indivíduo como autoconsciência, ou seja, a anterioridade histórica da sociedade sobre a pessoa individual.

Apreensivo com a construção da identidade social, Mead tenta compreender como se forma esta individuação. Para ele só poderá existir o senso do Eu se existir um senso correspondente a um Nós. Ou seja, são as relações sociais e o papel que desempenhamos na sociedade que irá constituir a pessoa. Mead concebe também o conceito de "outros significativos" (aqueles presentes na infância do indivíduo), sendo as suas atitudes caminho para a formação social da criança que com eles convive.

Contíguo a isso, cria o conceito de "outro generalizado”. Obtido certo desenvolvimento social do indivíduo, este é capaz de perceber que as atitudes dos "outros significativos" são, na verdade, atitudes gerais encontrados na sociedade.

Para Mead o Eu nasce na conduta, quando o indivíduo se torna um objecto social pela sua própria experiência. A criança age para consigo como age para com os outros. Para o indivíduo, o Eu é uma terceira pessoa e a sua manifestação na conduta para com outros é um papel a ser representado. Age-se conforme se espera dessa acção ou melhor como se imagina que é a expectativa da nossa acção.


A formação da mente ocorre quando o indivíduo alcança tomar a si mesmo como objecto de reflexão. Este processo, que ele denomina comunicação triádica, dá-se pela interacção reflexiva entre três instâncias simultaneamente subjectivas e objectivas: o "Eu", o "Mim" (que constituem o "self") e o "outro generalizado". Neste sistema, o outro generalizado corresponde à reflexividade instituída entre o indivíduo e a sociedade à qual pertence.

Mead co-participava com Wundt quanto à importância das “pesquisas sobre a linguagem no comportamento para conseguir a percepção do que é a mente. Para ele a mente era um produto da linguagem ao contrário de Wundt que considerava a linguagem como um produto da mente. Piaget resgatou esse problema pesquisando apresentações da relação entre linguagem (aprendizagem e desempenho) e inteligência.

Para Piaget, é através da função simbólica que o indivíduo alcança (aos 12 anos a capacidade de reflectir sobre hipóteses e enunciados e não mais sobre objetos postos sobre a mesa ou imediatamente representados.”

Mead dá relevância á compreensão dos processos através dos quais as pessoas constroem as suas acções. É no campo simbólico que esses sinais têm inteligibilidade. Só porque partilhamos um mesmo universo significativo podemos interpretar os sinais dos outros. A sociedade é o mecanismo que nos permite viver com o outro, representado pelas instituições (pelos costumes). As instituições são determinadas fixações de actos sociais.

Do ponto de vista metodológico a Interaccionismo simbólico defende a importância da observação naturalista (observação das interacções dos indivíduos no seu meio natural), desconsiderando as metodologias quantitativas, centralizadas na aplicação de questionários estandardizados.

Bibliografia:

BARATA, O.S. (1974), Introdução às ciências sociais, Vol.1, Lisboa, Bertrand, pp.189-195

Dicionário de Sociologia, (2004). 1ª ed. Porto, Portugal: Porto Editora GOFFMAN, 1998 In: RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, PEDRO M.




Estigma


Goffman, E. (1986). Stigma: notes on the management of spoiled identity. New York: Touchstone.


Resumo:


 O termo estigma foi concebido pelos gregos em referência a sinais corporais, nos quais se reflectia algo de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os ostentava. Na era cristã o termo estigma ganhou metáforas distintas: sinais corporais de graça divina ou distúrbios físicos.

Em contacto com outras pessoas, estabelecemos preconcepções e enquadramos cada pessoa numa categoria, a partir dos seus atributos ou de um status social. Produzimo-lo quase que automática e inconscientemente, idealizando as pessoas a partir de requisitos afectivos, imputando aos indivíduos expectativas que por vezes não os caracterizam, criando uma identidade social virtual; a categoria e os atributos que o indivíduo na realidade prova possuir é a sua identidade social real.

Ao catalogar um sujeito deixamos de considerá-lo comum e total, reduzindo-o ao seu estigma. Um estigma não é em si honroso nem desonroso, é um tipo especial de relação entre atributo e estereótipo. Existem múltiplas formas de um estigmatizado possuir uma característica diferente da que havíamos previsto, ou física ou na conduta. Um estigmatizado pode passar por situações de desacreditado, desacreditável, ou por ambas.

Actualmente, os estigmatizados confundem muitas vezes os sentimentos com a sensação de serem “normais”, mas é fatal que percebam que participam de uma parte que ficou abaixo das expectativas reais, do que necessitariam ser. Na antiguidade eram excluídos do convívio social, hoje vivem próximos aos “normais” e as duas partes, estigmatizados e “normais”, deparam-se com dificuldades de relacionamento; a aceitação de ambos gera sentimentos conflituosos.

Frequentemente os estigmatizados procuram aceitação através dos mais diversos mecanismos: quando o estigma está no físico, tentam corrigi-lo através de intervenções cirúrgicas, mas essa transformação pode trazer problemas a nível psíquico, já que essa mudança também acarreta transformações no ego. Outra predisposição dos estigmatizados alude a vitimização: são alvo de charlatões, que se aproveitam da deficiência para apresentar maneiras de a corrigir. Outros estigmatizados indagam corrigir a sua condição de maneira indirecta, tentando superar o estigma exaltando algum outro atributo.

 Paralelamente, alguns estigmatizados utilizam o seu estigma para obter ganhos secundários, uma desculpa pelo fracasso a que chegaram: utilizando o estigma como protecção social, atribuindo-lhe uma “graça” secreta, ou utilizando-se dele para reafirmar as limitações dos “normais”.

 Em situações sociais o estigmatizado é geralmente evitado, a maioria isola-se, assim os sentimentos de desconfiança, depressão e hostilidade são exteriorizados. Em contacto os “normais”, o estigmatizado defrontará directamente as causas e efeitos do estigma, pois não sabe em que categoria será colocado pelos normais, o que gera uma sensação de não saber o que pensam sobre ele; pode sentir-se em exibição, o que de facto acontece. Existe uma curiosidade mórbida a respeito da sua condição, assim é comum numa situação social mista que os indivíduos estigmatizados actuem de forma defensiva, algumas vezes num comportamento retraído, noutras num comportamento agressivo.

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